segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Chavismo avança em eleições regionais, mas Capriles é reeleito governador e se consolida como líder opositor

Apesar da ausência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o chavismo ampliou sua hegemonia nas eleições regionais ao conquistar quase a totalidade dos governos locais. Mas o principal líder opositor, Henrique Capriles, foi reeleito e "salvou" a oposição de uma crise ainda maior, de acordo com analistas.
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, dos 23 Estados em disputa, o chavismo ampliou seu poder de 16 para 20 Estados. A oposição reduziu sua influencia de sete para três Estados. Perdeu os emblemáticos governos de Zulia, o mais populoso e rico Estado petrolífero do país, Carabobo, maior zona portuária e industrial, e Táchira, reduto anti-chavista na fronteira com a Colômbia.
"Mais de 94% do território está nas mãos do chavismo (…) essa é uma vitória de todo o povo da Venezuela, mas principalmente uma vitória de Chávez. É a vitória perfeita", afirmou Jorge Rodriguez, chefe da campanha do partido do governo PSUV.
A nova correlação de forças políticas do país garante estabilidade ao chavismo num eventual processo de transição antecipado por Chávez, que se recupera em Havana de sua quarta cirurgia em 18 meses para combater um câncer na zona pélvica.
"Os resultados são uma demonstração que pode haver chavismo sem Chávez", afirmou à BBC Brasil o analista Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela.

Capriles

Capriles
Henrique Capriles foi reeleito governador e se consolidou como principal líder opositor
No Estado de Miranda - considerado como a jóia da coroa- o ex-candidato presidencial Henrique Capriles foi reeleito com 50,3% dos votos, contra 46% do ex-vice-presidente Elias Jaua, um dos homens de confiança de Chávez.
"Estou imensamente feliz pelo nosso povo de Miranda (…) mas não posso me sentir feliz pela nossa Venezuela", discursou Capriles na noite do domingo.
Com a vitória, Capriles se fortalece como líder da oposição e se projeta como presidenciável, caso novas eleições tenham de ser convocadas em consequência da deterioração da saúde do presidente.
Há uma semana, ele voltou a sonhar em ocupar a Presidência depois que Chávez surpreendeu a todos ao apontar o vice-presidente Nicolás Maduro como potencial sucessor e candidato presidencial caso sua saúde o impeça de assumir o novo mandato em 10 de janeiro, para o qual foi reeleito em outubro.
O analista político Carlos Romero considera que, apesar da vitória neste domingo, Capriles – que foi derrotado por Chávez em outubro - terá dificuldades para enfrentar novamente o chavismo nas urnas.
"A liderança de Chávez é uma liderança forte e com ou sem sua presença, não há um candidato da oposição que tenha suficiente nível para desafiar um candidato do governo neste contexto tão especial e em tão pouco tempo", afirmou Romero.

Crise

A derrota em importantes Estados e a redução da influência política nas regiões revela uma crise no interior da coalizão opositora na opinião do analista Nicmer Evans. A seu ver, os resultados refletem que o modelo de unidade criado pela coalizão opositora para enfrentar o chavismo "não funcionou".
"O desafio da oposição será criar um novo projeto unificador ou a história os reduzirá ainda mais", afirmou Evans à BBC Brasil.
O resultado eleitoral também mostra que os venezuelanos se mobilizam em massa quando o que está em jogo é a continuidade, ou não, do governo de Chávez. Nesta eleição, a abstenção foi de 46%. O voto é facultativo. Há dois meses, na eleição presidencial, houve um recorde histórico de 80% de participação nas urnas.
Nicolás Maduro
Se Chávez se afastar após o dia 10 de janeiro, Maduro assume e terá 30 dias para convocar novas eleições
A apatia dos eleitores preocupou tanto o governo como a oposição. Na reta final do período de votação, ambos utilizaram seus respectivos meios de comunicação para chamar seus eleitores às urnas. "Essa foi a pior data que escolheram para fazer eleições", reclamou Julio Borges, dirigente do partido Primeiro Justiça, de Henrique Capriles.
Pouco antes do fim da votação, a filha de Chávez, Maria Gabriela, que acompanha o pai em Havana, convocou os venezuelanos à "arrematar" a vitória. "Saudações de papai. Estou com ele e com‪ @jaarreaza muito atentos à Venezuela. Todos a cumprir! Pela pátria. Ao arremate perfeito", escreveu no microblog twitter.
Chávez - que se recupera de complicações apresentadas durante a cirurgia - encomendou a seu genro e ministro de Ciência e Tecnologia, Jorge Arreaza (citado na mensagem da filha), a tarefa de transmitir à população seu chamado a votar. "(Chávez) chamou a todos os patriotas, os que amam a Venezuela, a participar, para consolidar todos os espaços que nos permitam continuar avançando rumo à justiça social", disse Arreaza em nome do presidente via telefônica, em transmissão do canal estatal.
Arreaza confirmou neste domingo o que há dias o governo vinha insinuando: que Chávez esteve inconsciente desde terça-feira - dia da operação - até a sexta-feira, quando teria acordado e enviado saudações ao povo venezuelano.
"Desde antes de ontem (sexta-feira), o comandante já começou a se comunicar conosco, a instruir, a governar", afirmou Arreaza.
No sábado, Arreaza informou que Chávez havia recuperado todas sus "condições intelectuais" e admitiu que a família viveu "momentos de tensão" nas 48 horas seguintes à cirurgia, quando o presidente sofreu uma hemorragia.
A principal incógnita no país é se o presidente venezuelano poderá se recuperar para assumir o mandato em 10 de janeiro. Caso contrário, de acordo com a Constituição, o presidente da Assembleia Nacional - atualmente Diosdado Cabello, um dos principais aliados de Chávez – deverá assumir interinamente a Presidência e convocar novas eleições presidenciais em 30 dias.
Se Chávez conseguir assumir o mandato, mas tiver que se afastar definitivamente nos quatro primeiros anos de seu mandato, quem assume é o vice-presidente, Nicolás Maduro, que também terá de convocar novas eleições em 30 dias. Somente se o afastamento ocorrer nos últimos dois anos de governo é que o vice assume para completar o mandato de seis anos.

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