O ex-diretor do FBI James Comey afirmou que o presidente Donald Trump
lhe pediu para deixar em paz o general Michael Flynn, investigado por
contatos com a Rússia, de acordo com o testemunho por escrito que ele
apresentará nesta quinta-feira (8) no Senado.
Em um demolidor documento de sete páginas que lerá diante da Comissão
de Inteligência do Senado, Comey afirma que em uma conversa na Casa
Branca o presidente pediu que esquecesse de Flynn, que havia renunciado
como conselheiro de Segurança Nacional de Trump na Casa Branca.
"Ele me disse: 'espero que possa encontrar uma forma de deixar isso
passar, de deixar Flynn em paz. É um homem de bem. Tenho a esperança de
que possa se esquecer disso'", relatou Comey em seu depoimento.
Comey estava conduzindo uma investigação sobre as relações entre a
Rússia e o comitê de campanha de Trump nas eleições de 2016, e um dos
investigados era Flynn, que ocultou de Trump os contatos que manteve com
um diplomata russo.
O gesto de Trump de pedir ao diretor do FBI que deixasse em paz um
ex-funcionário da Casa Branca pode ser visto com uma tentativa de
obstrução da Justiça, um crime previsto na legislação americana e com
consequências imprevisíveis para a Presidência.
- "Infectar" a investigação -
Em seu depoimento escrito - divulgado nesta quarta-feira pelo Senado -
Comey afirma que ao sair desse encontro com Trump redigiu um memorando
interno para discutir a situação com os seus subordinados mais próximos.
A condução do FBI, acrescentou, "concordou comigo de que era
importante não infectar a equipe de investigação com o pedido do
presidente, que eu não tinha a intenção de acatar".
Em outra oportunidade, relatou Comey, Trump o chamou para dizer que a
investigação sobre a Rússia era "uma nuvem" que lhe impedia de ver
claramente as prioridades do país, e lhe perguntou o que poderia fazer
para "dissipar essa nuvem".
Trump "me disse que não tinha nada a ver com a Rússia, que não teve
nenhum contato com prostitutas russas e que sempre assumiu que enquanto
esteve na Rússia suas conversas foram gravadas", relatou Comey.
O ex-diretor do FBI deve dar nesta quinta-feira um esperado
depoimento oral diante do Senado que aparece como um momento importante
para o governo de Trump.
A audiência de Comey desperta tamanha expectativa na capital
americana que diversos bares de Washington abrirão mais cedo somente
para permitir acompanhar a sessão pela televisão ao vivo.
Os senadores interrogaram nesta quarta-feira em uma audiência pública
Dan Coats, diretor de Inteligência Nacional; Michael Rogers, diretor da
Agência Nacional de Segurança; Andrew McCabe, diretor interino do FBI; e
Rod Rosenstein, procurador-geral adjunto.
Um artigo publicado pelo jornal Wahington Post afirmou que a Casa
Branca pressionou Coats e Rogers para que negassem uma eventual colusão
do comitê de campanha de Trump com a Rússia durante a campanha eleitoral
de 2016.
- Tensão no Senado -
Durante a audiência, Coats e Rogers negaram enfaticamente ter sofrido
pressões de qualquer ordem para exercer suas funções, mas também se
negaram firmemente a oferecer detalhes de suas conversas com Trump.
"Jamais sofri qualquer pressão para intervir de qualquer forma para
orientar politicamente" o recolhimento de informações, disse Coats.
Rogers assinalou que "ninguém me pediu para fazer nada ilegal, imoral, pouco ético ou inapropriado".
Entretanto, a negativa em dar detalhes sobre suas conversas com o
presidente, por considerar que se trata de informação confidencial,
provocou a visível ira dos senadores.
O senador conservador Marco Rubio não conseguiu conter a sua
irritação. "Não estou pedindo informação confidencial. Estou perguntando
se alguém tentou influenciar uma investigação em curso", reclamou.
Coats apenas respondeu: "não vou me referir a isso de forma pública".
Rogers, por sua vez, adotou um tom desafiador: "não vou fazer
comentários sobre a minha interação com o presidente".
O senador Angus King perguntou a Coats sobre a "base jurídica" para
se negar a oferecer detalhes à comissão, e o funcionário admitiu não
"estar seguro de ter uma base legal" para não responder.
Além de Coats e Rogers, os senadores interrogaram nesta quarta-feira o
diretor interino do FBI, Andrew McCabe, e o procurador-geral adjunto,
Rod Rosenstein.
Entretanto, o depoimento mais esperado será o de quinta-feira pela
manhã, quando os senadores interrogarem Comey, que teria sugerido em um
memorando interno as pressões diretas de Trump.
Depois da demissão do ex-diretor do FBI, o Departamento de Justiça
nomeou um procurador especial independente, Robert Mueller, para
comandar as investigações sobre o papel da Rússia nas eleições, com
poder para convocar testemunhas e exigir documentos.
Por enquanto, a colusão não foi publicamente comprovada.
Questionado na terça-feira sobre a audiência de Comey, Trump respondeu: "lhe desejo boa sorte".
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