Ele quer "aprofundar a revolução". Aumentar a intervenção do Estado na
economia no lugar de reduzi-la. E concorda com o presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, que uma "guerra econômica" impulsionada pela
"burguesia parasita" é a origem da crise.
Este é Luis Salas, o novo ministro da Economia venezuelano e o cérebro
por trás da nova política de Maduro para fazer frente aos problemas
econômicos que afetam o país.
Na sexta-feira, a Venezuela declarou estado de emergência econômica em todo o território nacional por 60 dias.
O decreto não especifica se haverá alguma mudança drástica na política
econômica do país, mas se especula que o país planeje uma desvalorização
cambial e elevação no preço subsidiado dos combustíveis.
No mesmo dia, o Banco Central da Venezuela revelou dados sobre a
inflação do país, que chegou a 141% em setembro de 2015 e é a mais alta
do mundo.
Salas, um sociólogo de esquerda, foi nomeado na primeira semana de
janeiro por Maduro em meio a uma reestruturação de seu gabinete, após a
posse da Assembleia Nacional, que pela primeira vez é dominada pela
oposição.
Sua nomeação causou rejeição em setores da oposição e preocupação entre alguns economistas.
O novo ministro, que é fundador do centro de Economia Política da
Universidade Bolivariana da Venezuela, parece mais jovem do que é: tem
39 anos.
Maduro diz acreditar que ele é a melhor pessoa para solucionar a crise
econômica que afeta o país e que, em sua opinião, só terá fim
desmantelando o Estado Burguês e estabelecendo um Estado Comunal.
Os ensaios de Salas estão publicados na internet. Neles, o sociólogo
não só retifica o modelo econômico socialista implantado pelo chavismo,
como defende um aprofundamento da revolução.
"Não tem muito sentido continuar falando de 'inflação e escassez'
quando estamos realmente falando de especulação, ganância e monopólio",
afirma, em um deles.
Com a teoria do Estado Comunal, o governo também justifica a criação do
Parlamento Comunal, que opositores enxergam como uma forma de suplantar
a Assembleia Nacional.
'Participação popular'
A crise econômica é a maior preocupação do venezuelanos e, segundo
alguns analistas, a razão pela qual a oposição teve ampla maioria nas
eleições parlamentares em dezembro.
Ao expor seu plano econômico no início de janeiro, Maduro disse que
esperava decretar emergência econômica em breve e que vai "combater" a
chamada guerra econômica "reforçando o poder do povo para impulsionar a
produção".
O presidente venezuelano afirmou ainda que o tipo de economia que é
preciso desenvolver no país é a que tem nascido artesanalmente em meio à
crise.
Por causa da escassez, muitos venezuelanos fabricam detergente, sabão e
alguns remédios. O próprio presidente afirma usar xampu artesanal.
Uma "economia de participação popular" é sua proposta para acabar com a
dependência da burguesia, que seria a responsável pela atual situação.
A crise, que Maduro já não nega, é profunda e também sofreu o impacto
da redução de cerca de 60% no preço do petróleo ─ a maior fonte de
divisas de um país que importa a maior parte do que consome ─ no último
ano.
Contra a maré
Economistas críticos ao atual governo recomendaram, como medidas
urgentes, reduzir os gastos públicos, unificar as atuais quatro taxas de
câmbio, subir o preço da gasolina, que é muito baixo, e deixar de
financiar o deficit fiscal com a impressão de dinheiro por parte do
Banco Central.
Nada disso vai na linha do que propõe Luis Salas, que também não
reconhece vários dos problemas que, segundos os mesmos economistas, se
resolveriam com tais medidas de ajuste.
Salas, na verdade, escreveu ensaios criticando a ala do chavismo que
propôs a unificação das quatro taxas de câmbio ─ um esquema que, para os
críticos, é fonte de inflação, corrupção e distorções econômicas.
Maduro afirma que Salas "estudou com profundidade os fenômenos do
rentismo petroleiro (dependência da renda gerada pelo petróleo) e seu
esgotamento e os fenômenos da guerra econômica".
Nesse sentido, segundo o presidente, seu novo ministro teria concluído
que a inflação, por exemplo, não seria produto do alto gasto público do
governo e da impressão de dinheiro, mas sim uma consequência da
especulação e da cobiça de alguns monopólios do setor privado.
"A classe empresarial venezuelana é uma classe boa-vida e malcriada que
ao longo do tempo se transformou em um tumor econômico que vive da
renda petroleira e de tirar o salário dos trabalhadores e trabalhadoras
através da especulação", escreve Salas em um dos seus ensaios.
"O fim último da guerra econômica empreendida pela burguesia parasita é
a consolidação das condições sociais de reprodução e da exploração dos
grupos concentrados, transnacionais, mafiosos e especulativos sobre a
sociedade."
Por isso, o sociólogo nomeado ministro propõe reforçar os controles dos
preços e das importações para aumentar a intervenção do Estado na
economia.
Segundo ele, "derrotar a guerra econômica" passaria por dois
mecanismos: tirar os consumidores da dependência do setor privado e
gerar uma mobilização popular em defesa dos direitos coletivos.
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