Em declaração, a CNBB relembra a conquista da democracia no Brasil.
Nesta quinta-feira (14/4), a Presidência da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) anunciou a Declaração dos bispos sobre a atual
situação política do país. A divulgação ocorreu durante a 54ª Assembléia
Geral da CNBB, que acontece em Aparecida(SP), de 6 à 15 de abril.
Entre os participantes estavam o arcebispo de Brasília(DF)
e presidente da CNBB, dom Sérgio da Rocha, e o arcebispo de
Salvador(BA) e vice-presidente, Murilo Krieger. No texto da declaração,
os bispos relembram a conquista da democracia no Brasil e seus os principais eventos que marcaram os últimos 28 anos de sua história.
“Os movimentos populares,
organizações estudantis, operárias, camponesas, artísticas, religiosas,
dentre outras, tiveram participação determinante nessa conquista”, diz a declaração. Os bispos compararam o atual momento com esses eventos históricos da democracia brasileira.
A declaração ressalta ainda a necessidade de uma reforma política
“autêntica e profunda” e do cumprimento integral da Constituição, acima
dos interesses pessoais e partidários. “A polarização de posições
ideológicas, em clima fortemente emocional,(…) pode levar a divisões e
violências que ameaçam a paz social”, afirma.
Confira a declaração na íntegra:
DECLARAÇÃO DA CNBB SOBRE O MOMENTO NACIONAL
“Quem pratica a verdade aproxima-se da luz” (Jo 3,21).
Nós, bispos católicos do Brasil, reunidos em Aparecida, na 54ª
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
frente à profunda crise ética, política, econômica e institucional pela
qual passa o país, trazemos, em nossas reflexões, orações e preocupações
de pastores, todo o povo brasileiro, pois, “as alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje,
sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de
Cristo” (Gaudium et Spes, 1).
Depois de vinte anos de regime de exceção, o Brasil retomou a
experiência de um Estado democrático de direito. Os movimentos
populares, organizações estudantis, operárias, camponesas, artísticas,
religiosas, dentre outras, tiveram participação determinante nessa
conquista. Desde então, o país vive um dos mais longos períodos
democráticos da sua história republicana, no qual muitos acontecimentos
ajudaram no fortalecimento da democracia brasileira. Entre eles, o
movimento “Diretas Já!”, a elaboração da Carta Cidadã, a experiência das
primeiras eleições diretas e outras mobilizações pacíficas.
Neste momento, mais uma vez, o Brasil se
defronta com uma conjuntura desafiadora. Vêm à tona escândalos de
corrupção sem precedentes na história do país. É verdade que escândalos
dessa natureza não tiveram início agora; entretanto, o que se revela no
quadro atual tem conotações próprias e impacto devastador. São cifras
que fogem à compreensão da maioria da população. Empresários, políticos, agentes públicos estão envolvidos num esquema que, além de imoral e criminoso, cobra seu preço.
Quem paga pela corrupção? Certamente são os pobres, “os
mártires da corrupção” (Papa Francisco). Como pastores, solidarizamo-nos
com os sofrimentos do povo. As suspeitas de corrupção devem continuar
sendo rigorosamente apuradas. Os acusados sejam julgados pelas
instâncias competentes, respeitado o seu direito de defesa;
os culpados, punidos e os danos, devidamente reparados, a fim de que
sejam garantidas a transparência, a recuperação da credibilidade das
instituições e restabelecida a justiça.
A forma como se realizam as campanhas eleitorais favorece um
fisiologismo que contribui fortemente para crises como a que o país está
enfrentando neste momento.
Uma das manifestações mais evidentes da crise atual é o processo de
impeachment da Presidente da República. A Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil acompanha atentamente esse processo e espera o correto
procedimento das instâncias competentes, respeitado o ordenamento
jurídico do Estado democrático de direito.
A crise atual evidencia a necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que assegure efetiva participação popular,
favoreça a autonomia dos Poderes da República, restaure a credibilidade
das instituições, assegure a governabilidade e garanta os direitos
sociais.
De acordo com a Constituição Federal, os três Poderes da República cumpram integralmente suas responsabilidades.
O bem da nação requer de todos a superação de interesses pessoais,
partidários e corporativistas. A polarização de posições ideológicas, em
clima fortemente emocional, gera a perda de objetividade e pode levar a
divisões e violências que ameaçam a paz social.
Conclamamos o povo brasileiro a preservar os altos valores
da convivência democrática, do respeito ao próximo, da tolerância e do
sadio pluralismo, promovendo o debate político com serenidade.
Manifestações populares pacíficas contribuem para o fortalecimento da
democracia. Os meios de comunicação social têm o importante papel de
informar e formar a opinião pública com fidelidade aos fatos e respeito à
verdade.
Acreditamos no diálogo, na sabedoria do povo brasileiro e no discernimento das lideranças na busca de caminhos
que garantam a superação da atual crise e a preservação da paz em nosso
país. “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a se
preocupar com a construção de um mundo melhor” (Papa Francisco).
Pedimos a oração de todos pela nossa Pátria. Do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, invocamos a bênção e a proteção de Deus sobre toda a nação brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário