Todas as delegadas e convidadas para a convenção com as quais a
reportagem da Agência Efe entrevistou rejeitaram categoricamente que o
emprésário tenha um discurso machista, com argumentos como seu apoio às
mulheres em suas empresas e a confiança que tem em sua filha Ivanka, uma
de suas principais assessoras.
Trump enfrenta a uma situação duplamente insólita: concorrerá à
presidência com a primeira mulher candidata por um grande partido, a
democrata Hillary Clinton, e o faz com uma impopularidade histórica
entre o eleitorado feminino, que supera os 70% em algumas pesquisas.
"Ele valoriza as mulheres muito mais do que Hillary, as mulheres, para
ela, não poderiam importar menos. Se é que há uma guerra contra as
mulheres (algo do qual os democratas acusam recorrentemente os
republicanos), essa guerra vem do Partido Democrata", comentou,
indignada, Barbara Heming, convidada pelos delegados da Flórida.
"Hillary não quer mulheres líderes, quer um governo com muito peso,
quer controlar os indivíduos, tirar seus direitos", acrescentou,
exibindo um vistoso chapéu vermelho com laço azul e adesivos de apoio a
Trump.
Sherry Ogrodnik, que a acompanhava, a interrompeu para acrescentar que
Trump tem "valores" como os que nos anos 80 a incentivaram a deixar de
ser democrata e passar a apoiar os republicanos, atraída pelas propostas
do presidente conservador Ronald Reagan.
Quando perguntadas se o magnata é suficientemente conservador em
assuntos sociais, ambas se apressaram em lembrar que essa dúvida ficou
liquidada no dia em que ele anunciou que seu candidato a vice-presidente
seria o governador de Indiana, Mike Pence, que acumula décadas de
batalha contra o aborto e o casamento gay.
Nos corredores da Quicken Loans Arena, que recebe a convenção, as
mulheres republicanas exibem com orgulho seu apoio a Trump, um candidato
que, segundo as pesquisas, é rejeitado por mais de 40% das
conservadoras por seu longo e documentado histórico de comentários
pejorativos sobre as mulheres, a quem com frequência julga apenas por
seu aspecto físico.
"Se ouvir tudo o que disse, a razão pela qual fez esses comentários foi
para obter muita atenção da mídia, para poder falar depois dos temas
importantes", justificou à Efe a jovem Nazly de la Hoya, delegada pelo
Texas.
Perguntada se, por ter origens mexicanas, se sentiu ofendida com os
insultos de Trump sobre os imigrantes desse país, ela sorriu, fez uma
pausa e se explicou.
"Não me senti ofendida, o que acontece é que Trump não teve filtro. Seu
ex-chefe de campanha dizia que tinha um cartaz no qual colocava 'deixem
que Trump seja Trump'. Muitas das coisas que disse eram só para que a
mídia falasse constantemente dele", alegou.
Nazly, que pertence a dois segmentos do eleitorado muito difíceis para
Trump, argumentou que não há nenhum conflito entre ser mulher e latina e
apoiar o magnata ou o Partido Republicano, que têm seu nicho de apoio
entre homens brancos.
Para Barbie Jones, uma designer de joias que vende suas criações na
praça de alimentação da convenção, Trump é um homem a quem admira por
"sua força e sua bondade" e porque "não tem medo de ser ele mesmo".
"Me fascina seu discurso a favor de que os produtos sejam fabricados
aqui, e não fora. Eu o faço com minhas joias, tudo é feito aqui porque é
bom para os empregos e porque as coisas são de melhor qualidade quando
feitas aqui", afirmou, enquanto mostrava um elegante bracelete com um
elefante, símbolo republicano, em prata.
A poucos passos de seu estande de joias estão as meninas da ONG Future
Female Leaders ("Futuras mulheres líderes"), um movimento social de
jovens conservadoras que visa convencer outras de que podem e devem ser
orgulhosas de serem republicanas.
"Nas universidades, as jovens republicanas podem se sentir em minoria,
não representadas, porque são espaços onde uma maioria é progressista,
sobretudo em temas sociais como o aborto. Nós queremos criar um orgulho
de ser republicana", contou à Efe Amanda Owens, fundadora do movimento.
Aos 18 anos, e já uma delegada substituta pelo estado do Texas,
Brittany Divver está acostumada a ser perguntada por amigas por que é
republicana. E responde de forma simples e direta: "Acredito nos valores
do partido".
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