sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Oposição aposta em mensalão para desidratar PT em fim de campanha

Na reta final da campanha para a eleição municipal no domingo, o julgamento do mensalão, que nesta semana alcançou momento decisivo, polarizou ainda mais a disputa entre candidatos do PT e da oposição.
Nesta quinta-feira, mais três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se pronunciaram sobre as denúncias contra três figuras-chave do julgamento – o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.
Até agora, Dirceu e Genoino têm, cada um, três votos pró-condenação e um pró-absolvição; Delúbio foi condenado pelos quatro ministros.
A partir da próxima terça-feira, os outros seis membros do Supremo se pronunciarão sobre os réus. São necessários seis votos para condenar cada um. Eventuais penas serão definidas no fim do julgamento.
Por ora, o único magistrado a absolver Dirceu e Genoino foi o revisor do processo, Ricardo Lewandowski. Segundo ele, não há provas contra ambos.
"Não afasto que Dirceu tenha participado dos eventos, não descarto que seja mentor dessa trama, mas o fato é que isto não encontra ressonância nas provas dos autos."
Na véspera, o relator do processo, Joaquim Barbosa, votou pela condenação de Dirceu, Genoino e Delúbio por corrupção ativa. Para o relator, Dirceu coordenou o mensalão – esquema que, segundo ele, buscava comprar apoio político no Congresso para o governo Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2004.
Se condenados, os três se somarão aos 22 dos 37 réus que já foram considerados culpados no julgamento. Eles negam as acusações.

Campanha

Os desdobramentos do julgamento contaminaram o discurso de candidatos de partidos da oposição ao governo federal.
Na disputa em São Paulo, a campanha do tucano José Serra tem veiculado várias peças publicitárias que citam o mensalão e o associam ao candidato petista Fernando Haddad.
O caso também tem sido mencionado em palanques. Em evento da campanha de Serra no último sábado, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que "São Paulo não quer mensalão, São Paulo quer honestidade".
As referências ao caso renderam a Haddad direito de resposta, veiculado no horário eleitoral gratuito de Serra no rádio. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) avaliou que a associação de Hadad ao mensalão "teve a inequívoca intenção de comprometer a honra do candidato".
Serra e Haddad disputam vagas no segundo turno da eleição paulistana. Na última pesquisa do Datafolha, de quarta-feira, Serra ocupava o segundo lugar na corrida, com 23% das intenções de voto, enquanto Haddad vinha em terceiro, com 19%. O primeiro posto era ocupado pelo candidato do PRB, Celso Russomanno, com 25%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.
Até mesmo Russomanno, que concorre por um partido que integra a coalizão do governo federal, fez referência ao mensalão em sua campanha, ao responder crítica de Haddad.
"Sem mentira não conseguem ganhar eleição. São especialistas nisso. O Supremo está decidindo isso", disse ele, na última terça-feira.
Segundo o Datafolha, 19% dos eleitores de São Paulo disseram que mudarão o voto por causa do julgamento. Desses, 52% afirmaram que deixariam de votar em Haddad. A parcela pode ser decisiva no resultado do primeiro turno, dada a acirrada disputa entre os três primeiros colocados.
A coincidência nas datas do julgamento do mensalão e da eleição municipal provocou polêmica em maio. O ministro do Supremo Gilmar Mendes disse à revista Veja que Lula o havia pressionado a adiar a análise do caso, por supostamente temer que candidatos petistas fossem prejudicados nas eleições.
O ex-presidente negou ter tratado do assunto com Mendes.
Em Osasco, na Grande São Paulo, o julgamento do mensalão teve impacto ainda maior na disputa eleitoral. Réu no processo, o ex-deputado João Paulo Cunha concorreria à prefeitura da cidade pelo PT. No entanto, após ser condenado pela corte por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, o partido retirou sua candidatura.
O julgamento também tem sido usado como arma pela oposição em outras capitais, como Salvador e Belo Horizonte.
Nem todos os analistas, no entanto, avaliam que o caso terá efeito na eleição.
Para o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, o principal réu do julgamento – o ex-ministro José Dirceu – está afastado da vida política há muito tempo (sete anos) e não é associado pelos eleitores aos candidatos petistas.
Em entrevista ao jornal O Globo, ele citou o crescimento nas pesquisas de candidatos do PT em Salvador e Goiânia como um sinal de que os eleitores não têm levado o caso em conta ao decidir seus votos.
"A sociedade quer eleger o melhor síndico", disse ele. "É diferente de uma eleição presidencial".

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