sábado, 20 de outubro de 2012

Oposição do Líbano convoca série de protestos 'anti-Síria'

O principal grupo de oposição do Líbano convocou uma série de protestos para este domingo no país, após o atentado com carro-bomba que provocou a morte do diretor da agência nacional de inteligência na última sexta-feira na capital Beirute.
As manifestações, organizadas pelo grupo de oposição Março 14, vão coincidir com o enterro do general sunita Wissan al-Hassan, considerado um aliado dos partidos opositores e um desafeto do regime sírio, a quem é atribuído o ataque.
Hassan também era visto como um célebre defensor das causas dos rebeldes do país vizinho, que lutam pela deposição do presidente da Síria, Bashar al-Assad.
O chamado aos protestos ganhou o apoio do ex-primeiro-ministro do país Saad al-Hariri, que pediu a todos os cidadãos libaneses que participassem da cerimônia, que será realizada em um cemitério no centro de Beirute, no que muitos analistas já vêem como um ato político em potencial.
Além disso, Hariri pediu que Hassan fosse enterrado ao lado do túmulo de seu pai, o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, outro inimigo de Assad que foi assassinado em 2005 em uma atentado também atribuído à Síria.
"Cada um de vocês está pessoalmente convidado amanhã a se juntar a nós na Praça dos Mártires para as orações por Wissan al-Hassan", disse Hariri em pronunciamento à rede de televisão Future Television.
"Todos os libaneses foram protegidos por al-Hassan das tentativas de assassinato de Bashar al-Assad e Ali Mamlouk (general sírio indiciado em agosto deste ano por um atentado a bomba no Líbano), expondo si mesmo para que você não fosse vítima de uma explosão", acrescentou o ex-primeiro-ministro do país.
Neste sábado, em meio ao luto pela morte do general, protestos liderados pelos partidos da oposição tomaram as principais cidades do Líbano. Manifestantes montaram barricadas em ruas e queimaram pneus.
Diante da escalada das manifestações, o premiê do Líbano, Najib Mikati, colocou seu cargo à disposição neste sábado em uma reunião de emergência sobre o atentado que matou Hassan.
No entanto, o presidente Michel Suleiman não aceitou a renúncia, e pediu que Mikati continue no cargo. O premiê disse que aceitou o pedido do presidente, e que o país precisa agora permanecer "unido, forte e com segurança".
Além de Hassan, o atentado da última sexta-feira matou oito pessoas e feriu outras 12.

Síria

Najib Mikati / Reuters
Premiê Nijab Mikati pôs seu cargo à disposição, mas pedido não foi aceito por presidente
Neste sábado, políticos libaneses anti-Síria acusaram o governo de Damasco de estar por trás do ataque. Os líderes da oposição, Saad Hariri, e dos drusos, Walid Jumblatt, disseram que o governo do presidente sírio Bashar al-Assad foi responsável pelo ataque.
A coalizão de partidos liderada por Hariri pediu que o governo libanês renuncie.
O ataque ocorreu no distrito de Ashrafiya, de maioria cristã, em uma rua movimentada próximo à sede da coalizão 14 de Março, liderada por Saad Hariri. Este foi o pior atentado na capital libanesa em quatro anos, e destruiu a fachada de diversos prédios.
Hassan era próximo a Hariri, um dos principais críticos do regime sírio. Foi Hassan quem liderou a investigação que concluiu que o governo sírio participou do atentado de 2005 que matou o ex-premiê Rafik Hariri, pai de Saad.
O trabalho de Hassan também levou à prisão recente de um ex-ministro acusado de planejar um atentado no Líbano sob ordens do regime sírio.

Divisão

As comunidades religiosas no Líbano estão divididas entre apoiadores e críticos do presidente sírio, Bashar al-Assad. A tensão tem crescido com o conflito no país vizinho.
"Nós acusamos Bashar al-Assad de assassinar Wissam al-Hassam, o fiador da segurança dos libaneses", disse Saad Hariri, em discurso na televisão libanesa.
Libanês armado / AP
População libanesa protestou contra atos de violência atribuídos à Síria
Já Jumblatt disse à televisão Al-Arabiya: "[Al-Assad] está nos dizendo que mesmo que ele tenha levado a Síria à ruína, 'eu estou pronto para matar em qualquer lugar'".
O parlamentar Nadim Gemayel, do movimento de direita Partido da Falange Cristã, também acusou Síria e Assad.
"Este regime, que está desmoronando, está tentando exportar seu conflito para o Líbano", afirmou.
O movimento 14 de Março divulgou uma nota na qual acusa o governo local de proteger "criminosos", e exigindo a renúncia dos principais líderes libaneses.
O movimento Hezbollah, que é aliado do regime sírio, condenou a violência. O ministro sírio da informação, Omran al-Zoubi, disse que se tratou de um ato "covarde e terrorista", e que estes incidentes são "injustificáveis, seja onde for".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu que todos os partidos libaneses "não sejam provocados por atos terroristas hediondos".
A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, afirmou que o ataque à bomba é "um sinal perigoso de que existe gente que continua tentando afetar a estabilidade do Líbano".

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