O Brasil ainda não atentou para a necessidade de estabelecer
políticas de acolhimento e políticas multiculturais fim de atender à
demanda de haitianos que chegam ao país, disse hoje (22) o historiador
Miguel Borba de Sá, integrante da Rede Jubileu Sul, ao falar sobre a
imigração haitiana, no Seminário Nacional sobre o Haiti, em São Paulo.
Segundo
ele, há uma relação da chegada dos haitianos ao país com a Missão das
Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), ocorrida desde
2004. “Não há uma percepção de que esse grande influxo de imigrantes
haitianos tem a ver com a própria ocupação militar do Brasil [no
Haiti]”, disse.
“O Brasil vai ao Haiti, dá demonstrações de
riqueza e poder, com armas e com sua seleção brasileira, e depois não
espera isso de volta. Não espera que quem está lá com uma vida
totalmente impossibilitada de ter uma vida digna, olhe para o Brasil
como um espaço de esperança?”, completou.
Mas, segundo o
historiador, ao chegar ao Brasil os imigrantes percebem que existem
dificuldades a ser enfrentadas e descobram que a sociedade brasileira
também é muito desigual. De acordo com Miguel Borba, os imigrantes
haitianos chegam com ensino superior, falando dois ou três idiomas, e
acabam subempregados na construção civil, na indústria têxtil ou no
mercado informal, submetidos à falta de direitos e muitas vezes em
condições análogas à escravidão.
Leonildo Rosas, porta-voz do
governo do Acre, ao abordar o problema que a imigração ilegal vem
causando ao estado, destacou que, só de terça-feira (19)
para quarta-feira (20) desta semana, chegaram ao Acre mais 220
imigrantes, a maioria formada por haitianos. Segundo ele, a suspensão do
deslocamento dos estrangeiros para São Paulo – decidido com o governo
paulista e o Ministério da Justiça – vai fazer com que o problema
continue concentrado no estado acriano.
Tailaine Costa, que
trabalha no Centro Referência em Direitos Humanos da Cáritas, no Paraná,
informou que a entidade “recebeu ontem (21) a notícia de que estão indo
do Acre para Curitiba quatro ônibus com imigrantes, a maioria de
haitianos”.
A Cáritas do Paraná atua em parceria com o Ministério
Público do Trabalho no combate ao trabalho escravo, que atinge
principalmente imigrantes haitianos e refugiados sírios, segundo
Tailaine. “Formamos um grupo que sai à procura de trabalhos análogos à
escravidão. Isso é muito comum”, disse. De acordo com ela, A dificuldade
não é só em coibir os empregadores, é difícil também que o imigrante
identifique que está sendo vítima de trabalho escravo.
“Os casos
que chegam são extremos. É importante identificar durante o processo
que os trabalhadores têm direitos e que esses estão sendo violados.
Estamos trabalhando para que eles próprios identifiquem qual é a sua
situação, porque, quando eles identificam, já é uma violação muito
grande”.
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