Centenas de mulheres participaram hoje (30) da 5ª Marcha das Vadias
em São Paulo, reivindicando principalmente a legalização do aborto e o
fim do encarceramento feminino. Segundo as manifestantes, é preciso
ampliar o debate sobre ser ou não favorável ao aborto, entendendo que a
criminalização não impede que as pessoas continuem abortando o que
implica no comprometimento da saúde da mulher.
"A Marcha das
Vadias luta basicamente contra a criminalização e culpabilização das
mulheres pela violência que elas sofrem, em especial, a sexual. Este
ano, especificamente, resolvemos pautar a questão da legalização do
aborto porque temos um congresso extremamente conservador e que já
expressou que isso não vai entrar na pauta. Estamos aqui para dizer que
vai", disse a psicóloga Isabel Bernardes, integrante do movimento, em
entrevista à Agência Brasil.
Segundo ela, cada mulher tem o
direito de decidir sobre fazer ou não um aborto. "E mais do que isso. É
necessário uma real política de efetividade dos direitos sexuais e
reprodutivos para que o aborto fosse, de fato, a última opção e não um
remédio duro de tomar"
Isabel Bernardes entende que legalizar o
aborto não é obrigar as mulheres a fazer aborto. “Ninguém vai ser
obrigado a fazer o aborto porque está legalizado. Deve-se deixar as
pessoas que não querem, não podem ou não acreditam nesse projeto de
vida, dar à luz decidir não seguir adiante com uma gravidez. Legalizar
o aborto é dar oportunidade para quem não pode pagar fazer, porque
quem pode pagar faz, mas sem risco de morrer", destacou a psicóloga.
Uma
das manifestantes, de 31 anos de idade, que chamamaos de Joana para
preservar a sua identidade, disse à reportagem ter feito dois abortos. O
primeiro, quando tinha 23 anos. Para isso, segundo ela, mesmo sabendo
dos riscos, comprou por iniciativa própria um medicamento abortivo que
custa em torno de R$ 100 ou R$ 200 cada comprimido.
"Utilizei a
medicação na minha casa e segui as instruções de cartilhas que encontrei
na internet. Usei, aguardei um tempo para fazer efeito, e tive
hemorragia. Nas duas vezes eu estava entre sete ou oito semanas de
gravidez. E eu sabia que teria que procurar um hospital depois. Mas eu
sabia disso porque eu tive acesso à informação. Nas duas vezes passei
por curetagem no hospital".
Joana disse ainda que, no hospital,
não falou ao médico sobre ter provocado o aborto por temer
consequências. "Não falei nada. Nem que estava grávida. Contei que tinha
sofrido uma hemorragia e que estava com dor".
"É urgente no
Brasil legalizar o aborto. As mulheres morrem porque elas não têm acesso
à informação, praticam o aborto de forma absolutamente sem informação.
Muitas mulheres morrem porque tomam o remédio e depois não procuram o
hospital para fazer a curetagem. Outras fazem de forma pior, perfurando o
útero com agulha de tricô. Ou tomam drogas das quais não sabem a
origem, risco que eu também corri”, destacou. Para a manifestante, o
ideal é que toda mulher pudesse fazer o aborto pelo Sistema Único de
Saúde (SUS).
"As mulheres pobres correm muitos riscos. Quem tem R$
4 mil ou R$ 5 mil vai para Moema bairro de classe média alta de São
Paulo e faz da forma mais segura e limpa possível. E sai de lá
tranquila. Quem não tem ou vai parar em uma clínica sem nenhuma
estrutura ou vai parar na mão de uma curiosa ou vai tentar fazer como eu
fiz, em casa e sozinha, correndo muitos riscos porque eu tenho a
absoluta convicção de que a maioria das mulheres não tem acesso a essa
informação que eu tive na internet", disse Joana.
Depois da
concentração no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) onde
confeccionaram cartazes e entoaram cânticos sobre o aborto, entre eles,
um que fazia referência ao Uruguai, com o seguinte refrão: “O Uruguai
já legalizou, Brasil, a sua hora chegou”, as manifestantes seguiram em
caminhada pela Avenida Paulista e Rua Augusta, com destino à Praça
Roosevelt, no centro da cidade. Lá, ao encerrar o ato, elas sentaram em
círculo e cada uma deu um depoimento sobre o aborto.
As manifestantes estimaram que o ato reuniu cerca 2 mil pessoas. A Polícia Militar calculou em torno de 100 pessoas.
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