A coalizão liderada pela Arábia Saudita bombardeou nesta
segunda-feira um hospital em uma província sob controle rebelde no norte
do Iêmen, deixando ao menos 11 mortos e 20 feridos, 48 horas após
ataques aéreos que mataram 10 crianças iemenitas.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que possui uma equipe nesse
centro de atendimento, confirmou no Twitter "que o hospital Abs (na
província de Hajja) foi atingido por bombardeios aéreos hoje às 15h45
locais (09h45 de Brasília)".
Pouco depois, a organização informou que "a explosão matou na hora
nove pessoas, incluindo um funcionário da MSF, e dois outros pacientes
morreram quando eram transferidos" para um outro hospital.
Outras dezenove pessoas ficaram feridas e a explosão destruiu parcialmente o edifício.
A ONG criticou a morte de "um eletricista da MSF", informou por
telefone à AFP, de Barcelona, Teresa Sancristóval, encarregada da ONG
para operações urgentes no Iêmen. "Os outros mortos eram pacientes",
confirmou.
"Entre os feridos estão um médico e um enfermeiro da MSF, os dois com gravidade", acrescentou.
"Os demais são pacientes (...) Os mais graves foram levados para outro hospital situado a duas horas" do local, destacou.
A organização humanitária, cuja equipe trabalha desde 2015 no
hospital público de Abs, indicou que todos os pacientes e pessoal médico
foram evacuados.
A MSF lembrou que os responsáveis pelos bombardeios conheciam
perfeitamente a localização do hospital e que se trata do "quarto
ataque" contra uma instalação da MSF "em menos de 12 meses", criticou
Sancristóval.
Moradores de Abs confirmaram os bombardeios ao hospital, indicando
que a coalizão visou nos últimos dias posições rebeldes na cidade.
Em comunicado, a organização pediu aos beligerantes, "em particular à
coalizão comandada pela Arábia Saudita" que se comprometam a pôr um fim
a este tipo de ataque.
Os Estados Unidos condenaram os ataques, mas não responsabilizaram
diretamente a coalizão árabe liderada pelos sauditas e apoiada por
Washington.
"Estamos profundamente preocupados com as informações sobre um ataque
contra um hospital no norte do Iêmen. Os ataques contra instalações
humanitárias, principalmente hospitais, são particularmente
preocupantes", declarou a porta-voz do departamento de Estado, Elizabeth
Trudeau.
Sem apontar diretamente os culpados, a porta-voz pediu a "todas as partes em conflito que parem imediatamente as hostilidades".
Estes bombardeios acontecem menos de 48 horas depois que a MSF acusou
a coalizão de matar 10 crianças ao bombardear uma escola corânica em
Saada, outra província rebelde do norte iemenita.
A coalizão negou ter atacado a escola e disse que se tratava de um
campo de treinamento de rebeldes, onde havia soldados menores de idade.
Ainda assim, afirmou que investigará o incidente.
A coalizão árabe iniciou sua campanha contra os rebeldes huthis apoiados pelo Irã e seus aliados em 26 de março de 2015.
Investigação
A Anistia Internacional condenou os ataques contra o hospital "que
causaram vítimas entre os civis e pessoal médico". "Atacar
intencionalmente instalações médicas é uma grave violação do direito
humanitário e pode constituir um crime de guerra", destacou a
organização, que pediu uma investigação.
"Os bombardeios de infraestruturas humanitárias, sobretudo hospitais,
são particularmente inquietantes", comentou a porta-voz do Departamento
de Estado americano, Elizabeth Trudeau.
Abs está localizada nos limites da cidade de Harad, perto da
fronteira com a Arábia Saudita. É a partir de Abs que os rebeldes
iemenitas lançam com certa frequência ataques contra regiões sauditas
perto da fronteira, causando vítimas.
Frequentemente bombardeada pela coalizão, Harad é também o palco de
violentos combates entre as forças governamentais apoiadas pelas tropas
da coalizão e os rebeldes xiitas huthis.
Fontes militares pró-governo disseram que veículos militares haviam
transferido de Harad rebeldes feridos ao hospital de Abs, sugerindo que
os ataques tinham como alvo este estabelecimento por este motivo.
A coalizão e a Arábia Saudita são regularmente acusadas de atacar, ainda que por erro, civis, inclusive crianças.
Nesta segunda-feira, a coalizão árabe anunciou que autorizou a
retomada dos voos humanitários no aeroporto internacional da capital
Sanaa, que havia sido fechado aos voos civis após a retomada dos ataques
aéreos.
Originários do norte do Iêmen, os huthis se levantaram contra o poder
do presidente Abd Rabbo Mansour Hadi em 2014, tomando grandes porções
de território, incluindo a capital Sanaa.
Em março de 2015, a vizinha sunita Arábia Saudita, que acusa os
huthis de ligações com o Irã, assumiu a liderança de uma coalizão
militar árabe para parar o avanço dos rebeldes por meio de bombardeios
aéreos e combates no terreno.
Desde então, a guerra fez mais de 6.400 mortos e 30.000 feridos, incluindo muitos civis.
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