A trajetória da tocha olímpica pelo Centro e Zona Portuária do Rio de
Janeiro foi recebida com uma onda de celulares em punho, com diversas
pessoas tentando registrar o ato, mas também queixas de moradores da
região e até protesto de um dos condutores da chama.
Tarcisio
Cisão, um dos que carregaram a tocha no bairro da Saúde, Zona Portuária,
fez um protesto contra o presidente interino do país, com os dizeres
"Fora, Temer" pintados com tinta nas nádegas. Em determinado momento do
trajeto, Tarcisio mostrou sua mensagem, mas a manifestação não chegou a
chamar a atenção dos que acompanhavam a passagem. Ele foi logo detido
pela Força Nacional, encaminhado para uma viatura e liberado em seguida.
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Um
bloco carnavalesco de amigos de Tarcisio chegou a acompanhar a passagem
dele, tocando marchinhas. Daniel Galvão, carioca de 30 anos, que fazia
parte do grupo, acredita que a Olimpíada funciona como "um disfarce para
as politicagens mais podres" que envolvem a realização do evento na
cidade. Ele criticou ainda o fato do evento não permitir que a população
manifeste opinião -- como no caso do protesto do condutor da tocha --, e
aceitar apenas "aplausos", "como na ditadura".
"O problema não é
a competição esportiva em si, mas não vale a pena pagar o preço que a
cidade vai ter que pagar por esta Olimpíada", destacou Daniel Galvão.
Para ele, o megaevento traz benefícios para quem vive financeiramente
"da" cidade, não para quem vive "na" cidade. "A Olimpíada deixa um
rastro de entulho, sangue e merda por onde passa", acrescentou Daniel,
chamando a atenção para o grande número de remoções realizadas na
capital fluminense em nome da realização do evento.
Enquanto a
tocha passava pela Rua do Livramento, moradores reclamavam do ato. Nadia
Cristina, 21 anos, moradora do Rio desde os quatro anos, gritava,
parada na porta de sua casa, "palhaçada!". "Os hospitais estão todos
precisando de médico, não tem escola direito, um monte de gente morrendo
no meio da rua e eles perdendo tempo com um pedaço de fogo, um foguinho
de nada, enquanto os brasileiros estão todos precisando", declarou ao
JB.
Para
Nadia, o grande número de policiais e integrantes da Força de Segurança
durante a passagem da tocha é "ridículo". "Acho que nem eles trabalhadores da segurança pública devem estar recebendo o dinheiro
deles e estão aí para proteger um pedacinho de fogo, enquanto o prefeito Eduardo Paes está ganhando dinheiro às custas dos outros."
Outra
que criticava a passagem da tocha na frente de sua casa, também na Rua
do Livramento, era Isamar Paulo de Oliveira, 43 anos, nascida e criada
no Rio de Janeiro. "O governo só olha para a Olimpíada, não olha pra
gente, que é pobre", disse ao JB.
"A gente precisa de hospital,
atendimento médico melhor, escola melhor, educação melhor, salário
melhor, porque a gente trabalha igual um condenado, e o governo não faz
isso. Agora, Olimpíada, está aí, eles estão fazendo tudo isso aí. Quando
a Olimpíada for embora, a gente fica jogado no lixo", completou
Isamar.
Sobre o forte aparato policial que acompanhava o trajeto
da tocha, Isamar apontou que o ideal seria proteger e oferecer segurança
e tranquilidade à população. "Não precisava ter essa segurança toda
para uma tocha, poderia ter essa segurança pra gente que trabalha, que é
cidadão", comentou . "Eduardo Paes não faz nada pelo pobre, ele só faz
pelo rico. Porque depois que a Olimpíada acabar, isto aqui vai ficar
jogado às traças."
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