sábado, 16 de junho de 2012

Dezoito pessoas morreram e centenas ficaram feridas em confrontos entre policiais e camponeses sem-terra nesta sexta-feira no Paraguai, próximo à fronteira com o Brasil.
Segundo o ministro do Interior, Carlos Filizzola, o tiroteio aconteceu durante uma operação policial de reintegração de posse de uma fazenda invadida em Curuguaty, no departamento (Estado) de Canindeyú, próximo à fronteira com o Paraná.
“São sete policiais e nove ou dez camponeses (mortos)”, disse Filizzola. O fato aumentou a tensão em torno da questão agrária no Paraguai.
A operação ocorreu na fazenda do empresário Blas N. Riquelme. Centenas de policiais chegaram ao local em veículos e helicópteros, com um mandado da Justiça determinado a retirada dos camponeses do terreno.
O confronto armado ocorreu em uma região de selva que foi cercada pela polícia, segundo o Ministério do Interior.
O presidente Fernando Lugo lamentou as mortes em um pronunciamento na residência presidencial de Mburuvicha Roga, na capital do país.
“Manifesto meu firme apoio às forças de ordem e me solidarizo com as famílias das vítimas fatais que entregaram suas vidas durante o cumprimento de uma missão”, disse o presidente.

Exceção

Lugo afirmou que o governo está trabalhado para “devolver a calma e a segurança” à região. Porém, ao mesmo tempo, o Congresso Nacional convocou uma sessão extraordinária para analisar a situação.
Uma das possibilidades em discussão é a declaração de estado de exceção na região. A medida autorizaria o uso das Forças Armadas para conter a violência local. Ela já foi usada no país em outubro de 2011 (a pedido do Congresso) e 2010 (por ordem de Lugo) para combater guerrilheiros do EPP (Exército do Povo Paraguaio).
Apesar disso, de acordo com a versão on line do jornal Ultima Hora, de Assunção, Lugo já teria determinado que as Forças Armadas participem das operações em Curuguaty.
No entanto, a atuação de membros do EPP na resistência armada à desocupação da fazenda até agora é descartada pelo Ministério do Interior.
Parlamentares chegaram a cogitar a discussão no Congresso sobre uma medida para destituir Filizzola de suas funções. O ministro afirmou, por sua vez, que não pretende deixar a pasta. “Não vou renunciar ao cargo”, afirmou.
Ele disse ainda que "não é a primeira vez" que o mesmo grupo invade as terras de Riquelme.

Sem-terra

Os camponeses envolvidos no confronto fazem parte da chamada ‘Liga Nacional de Carperos’ (Liga Nacional de Acampados, em tradução livre). Em um comunicado, a MCNOC (Mesa Coordenadora Nacional de Organizações Camponesas), que reúne setores dos sem-terra, criticou o governo nacional.
“Rejeitamos os assassinatos de camponeses e de policiais e de centenas de feridos em uma mostra de irresponsabilidade do governo e destacamos que não será desta maneira que se dará uma resposta aos graves problemas da população paraguaia”, diz o texto.
A MCNOC tem reivindicado uma política de reforma agrária no país e critica a expansão do agronegócio no Paraguai.
Os conflitos por terras têm sido constantes nos últimos anos no Paraguai. Analistas econômicos vinculados ao governo afirmam que a expansão do cultivo da soja, que colocou o país entre os maiores produtores do mundo, tem contribuído para “expulsar” os que moram no interior do país.
“A soja colocou o Paraguai entre um dos maiores produtores do planeta mas a questão da terra ficou ainda mais difícil para os paraguaios”, disse um deles em recente entrevista à BBC Brasil.
A situação ocorre em um momento no qual surgem críticas ao comportamento do presidente Lugo que nos últimos dias assumiu a paternidade de mais uma criança, dos tempos em que foi bispo da igreja católica.
Lugo foi eleito presidente como “bispo dos pobres” e defensor dos sem terra e o primeiro a ser eleito presidente após décadas de governo do Partido Colorado.

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