domingo, 10 de junho de 2012

O candidato de centro-direita Henrique Capriles Radonski, desafiante do presidente venezuelano Hugo Chávez nas eleições de outubro, deu o pontapé oficial à sua campanha convertido no principal "produto" da oposição anti-chavista nos últimos anos.
Capriles, de 39 anos, oficializou sua candidatura no domingo diante de uma multidão. Ele reiterou sua principal proposta: unir a Venezuela, que, segundo ele, foi dividida por Chávez.
"Temos um governo que nos dividiu. Capriles vai unir a Venezuela e os venezuelanos. Também serei presidente dos vermelhos (cor que identifica o chavismo)", afirmou minutos antes de formalizar a candidatura presidencial ao Conselho Nacional Eleitoral.
Em discurso, o candidato da coalizão opositora repetiu slogans da campanha e não falou de seu plano de governo.
Ele foi escolhido com mais de 60% dos votos em uma inédita eleição primária realizada em fevereiro pela coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática) - na qual participaram mais de 3 milhões de eleitores. Mas, viu sua vitória ser ofuscada pelo anúncio da reincidência do câncer do presidente e a descoberta de um novo tumor.
"Pretendo ser um presidente que fale menos, que não invada a vida dos venezuelanos todos os dias, que não acredite ser imprescindível", disse Capriles durante a campanha.
Mas, com a agenda política e midiática centralizada na saúde de Chávez, Capriles tem encontrado dificuldades, para converter suas propostas de geração de empregos e de combate à insegurança e à inflação em temas de debate nacional.
Para mostrar juventude e saúde - diferencial que tem utilizado durante a campanha contra Chávez - Capriles caminhou no domingo cerca de 10 quilômetros, do leste ao centro de Caracas, onde está o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) cercado por uma multidão. Em outro ato de campanha, já havia comparado a vitalidade dos dois. "Aquele cavalo (Chávez) está cansado. Este aqui esta cheio de energia".
De acordo com analistas, a candidatura de Capriles Radonski representa o melhor momento da chamada "oposição democrática" desde que Chávez chegou ao poder, há 13 anos.
Muitos opositores afirmam que ainda existe uma ala "golpista" na oposição - cujas ações resultaram no fracassado golpe de Estado de 2002. Esse grupo não se dissolveu por completo, porém detém pouco poder político e de mobilização.
No entanto, enfrentar Chávez não será tarefa fácil. Apesar do desgaste de sua gestão ao longo de 13 anos de governo e de sua ausência da cena pública devido ao tratamento contra o câncer, pesquisas de intenção de voto revelam que o índice de intenção de votos a favor da reeleição do presidente flutua entre 17 e 20 pontos.
Contando hipoteticamente com todos os votos anti-chavistas, a coalizão opositora aposta cavalgar em uma suposta queda do "teto" de eleitores chavistas e atrair os "chavistas lights" com a promessa de realizar uma gestão mais eficaz.
Apoiado por setores políticos empresariais e por meios de comunicação privados, Capriles luta por livrar-se do rótulo de conservador.
Autodenominando-se "progressista" e de "centro-esquerda", Capriles afirma se inspirar no "modelo Lula" e promete dar continuidade aos programas sociais do governo Chávez, principal pilar da área social da chamada revolução bolivariana.
O programa apresentado pela MUD, no entanto, contradiz esse discurso. Entre outros aspectos, a proposta prevê eliminar o fundo de reservas (Fonden) que sustenta os planos sociais do governo, incrementar a participação privada na exploração petrolífera do país, reduzir a participação do Estado em projetos de desenvolvimento e devolver as terras desapropriadas para a reforma agrária aos antigos proprietários.
Na visão de alguns analistas, essas propostas abrem caminho para a restruturação do modelo neoliberal no país.

De porta em porta

Milhares participam de passeata pró-Capriles em Caracas neste domingo
Milhares participaram de passeata pró-Capriles em Caracas neste domingo
Outro elemento que dá ânimo à oposição na disputa contra Chávez é o crescimento de seu próprio núcleo eleitoral, que tem cerca de 5 milhões de eleitores de um universo de 18 milhões de inscritos. Os indecisos ou dos "não-alinhados", considerados como o fiel da balança, são estimados entre 4 a 5 milhões de eleitores.
Para angariar esses votos e fazer frente à "maquinária chavista", Capriles buscou o marqueteiro carioca Renato Pereira, responsável pelas campanhas do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do prefeito Eduardo Paes.
Capriles deu início à sua campanha pelo interior do país em um percurso "casa por casa". Envolvido na política desde muito jovem, sua carreira foi centralizada em Caracas e no Estado de Miranda, do qual foi governador até quarta-feira passada.
Para se candidatar à Presidência, Capriles teve de deixar o cargo, que ocupava desde 2010.
Em 2004, o político esteve preso durante quatro meses, acusado de promover atos de violência contra a embaixada de Cuba em Caracas, durante o fracassado golpe de Estado contra Chávez, em 2002.
Na ocasião, era prefeito de Baruta, município do leste de Caracas. Cinco anos depois, ele derrotou nas urnas o candidato chavista Diosdado Cabello na disputa do governo de Miranda.
A projeção de Radonski na vida política começou no partido democrata-cristão Copei. Aos 25 anos assumiu o cargo de Presidente da extinta Câmara de Deputados, durante o governo de Rafael Caldera, antecessor de Chávez.
De origem judaica polonesa, sua família representa uma das mais tradicionais e ricas da elite venezuelana e está vinculada ao setor empresarial, incluindo a principal cadeia de cinemas do país, meios de comunicação, indústrias e imobiliárias.
Solteiro, Capriles utiliza esse detalhe como arma para captar o público feminino. Se chegar à Miraflores, prometeu dar à Venezuela uma "primeira-dama".

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