sexta-feira, 20 de julho de 2012

O clérigo muçulmano brasileiro Abdel Nasser Khatib, 59 anos, de Jandaia do Sul, no Paraná, participa dos esforços de organizações islâmicas no Líbano para ajudar os refugiados sírios que fogem da violência na Síria.
Em conversa com a BBC Brasil, ele contou sobre o drama das pessoas que entram pela fronteira libanesa e a necessidade de mais ajuda humanitária.
Morador de Majdel Anjar, a cerca de dois quilômetros do posto fronteiriço do Líbano com a Síria, Abdel Nasser Khatib se dirigiu à sua mesquita para o tradicional sermão e orações das sextas-feiras, já que neste dia 20 começa o Ramadã (mês sagrado dos muçulmanos) em grande parte do mundo islâmico.
Além do tradicional sermão, Khatib disse que também dedicou um tempo para falar da necessidade de acolher e ajudar os milhares de refugiados sírios que chegam ao Líbano vindos, principalmente, da capital Damasco.
Ao sair da mesquita, o clérigo contou à BBC Brasil que uma organização islâmica em Beirute, Dar al Fatwa, mobilizou hospitais, médicos, entidades assistenciais no Vale do Bekaa, região leste junto à fronteira, para atender os sírios que chegam em números cada vez maiores ao Líbano.
"Eles chegam sem muitos pertences. Basicamente, precisam de comida, assistência médica e algum dinheiro", disse Khatib, que viaja ao Brasil todo ano.
Ele revelou que clérigos muçulmanos e entidades de ajuda humanitária regionais entraram em contato com médicos e hospitais para atender casos de pessoas com ferimentos leves ou traumas emocionais e psicológicos.
"Vários refugiados, especialmente mulheres e crianças, chegaram em um estado psicológico abalado e bastante assustados."
Segundo ele, os sírios são levados para escolas ou casas de libaneses que se voluntariam para acolher os refugiados.

Damasco

Segundo as Nações Unidas, mais de 20 mil pessoas cruzaram a fronteira leste do Líbano com a Síria nos últimos dois dias, a maioria procedente de Damasco, elevando para cerca de 30 mil o número de refugiados sírios no país. A maioria se concentra no norte e no leste, na região do Vale do Bekaa.
O clérigo brasileiro falou que muitos refugiados atravessam a fronteira visivelmente assustados e com diversas histórias de violência na capital, Damasco.
"Alguns me contaram sobre como bombas caíam a todo instante em áreas residenciais, o que os deixou sem alternativas senão sair da cidade."
"Outros falaram dos intensos combates entre opositores e tropas do governo, de como os dois lados atiravam de forma indiscriminada, uma guerra sem limites", disse.
De acordo com Khatib, o mais difícil de atender são as crianças que estariam "emocionalmente abaladas", com traumas, especialmente por causa das explosões.
"Algumas até presenciaram mortes, o que é muito grave e exige o apoio médico especializado", afirmou.
O clérigo alertou para a falta de recursos por conta da grande quantidade de refugiados que continuam a entrar na fronteira leste.
"Vamos precisar de apoio humanitário de entidades maiores. Já contatamos organizações internacionais, além, é claro, da ONU", disse.
A ONU declarou que o total de refugiados sírios registrados em países vizinhos – Turquia, Jordânia, Iraque e Líbano – chega agora a 112 mil pessoas, mas que o número total seria maior se fossem agregados os refugiados que não se registraram junto às Nações Unidas.

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