sábado, 14 de julho de 2012

O governo britânico surpreendeu ao anunciar nesta quinta-feira que precisará convocar 3,5 mil soldados para preencher alguns "buracos" no esquema de segurança dos Jogos Olímpicos.
As autoridades e os organizadores dos Jogos têm se orgulhado de alguns sucessos na preparação para as Olimpíadas, que começam daqui a duas semanas, como as obras nos estádios, que terminaram antes do prazo previsto.
Mas a organização dos Jogos também teve diversos problemas, além da segurança, que provocaram críticas e temores entre os britânicos.
Confira abaixo cinco problemas enfrentados pela organização dos Jogos de 2012.

1. Imigração

Filas em Heathrow
Governo não está conseguindo reduzir tamanho das filas nos aeroportos
As longas filas no aeroporto de Heathrow para entrada na Grã-Bretanha ainda são uma dor de cabeça para o governo.
Mas os problemas nas fronteiras começaram muito antes. Um ano antes das Olimpíadas, o governo implementou um projeto-piloto para tentar justamente acelerar as checagens de passaportes e diminuir as filas.
O esquema era apenas um teste temporário, mas acabou durando meses e, segundo a ministra do Interior, Theresa May, sem o conhecimento ou consentimento do governo.
Segundo as autoridades, mais de 10 milhões de pessoas entraram na Grã-Bretanha sem a devida checagem. Até hoje o governo não sabe dizer quantas pessoas entraram de forma ilegal devido ao problema.
O escândalo levou a algumas renúncias e a uma reforma ampla nos serviços de imigração. Em abril deste ano, o aeroporto de Heathrow voltou a registrar filas enormes, com alguns passageiros esperando mais de três horas para ter seus passaportes checados.
Nesta semana, um inspetor das fronteiras britânicas disse que vários oficiais de imigração estão trabalhando nos balcões dos aeroportos sem ter passado por treinamentos básicos. Ele acredita que isso pode estar facilitando a entrada de pessoas ilegalmente.
O governo afirma que a partir de domingo mais 500 oficiais de imigração estarão trabalhando nas fronteiras, em uma operação especial voltada para as Olimpíadas.

2. Ingressos

Ingressos para os Jogos
Sistema de sorteio tentou tratar todos de forma igual, mas provocou algumas distorções
Em todas as Olimpíadas, a venda de ingressos é sempre um problema. Como atender à demanda de todos que querem um lugar nos estádios? Em Pequim 2008, os organizadores tomaram a polêmica decisão de permitir a compra de apenas um ingresso por pessoa para as cerimônias de abertura e encerramento. Muitos chineses protestaram: quem quer ir sozinho aos estádios, sem a presença de amigos ou parentes?
Os organizadores de Londres 2012 inovaram ao adotar um esquema de sorteio. Torcedores elaboravam uma lista com todos os seus pedidos de ingressos e forneciam um cartão de crédito com fundos suficientes. Os ingressos foram alocados por sorteio apenas àqueles que tinham dinheiro nas suas contas.
O objetivo não era resolver o problema da alta demanda – que é insolúvel, sem que haja um aumento enorme nos preços cobrados – mas sim dar um tratamento igual a todos os torcedores.
Apesar disso, o sistema foi muito criticado. Em nenhum momento, os torcedores tinham garantias de quantos ingressos receberiam. Uma vez sorteados, os ingressos eram debitados automaticamente das contas, sem poderem ser revendidos para ninguém.
A grande maioria das pessoas não foi contemplada com nenhum ingresso, o que frustrou grande parte da população.
Outro problema foram os casos extremos. Alguns torcedores pediram dezenas de ingressos na esperança de garantir apenas alguns poucos. Os que foram contemplados com vários – ou todos os ingressos pedidos – tiveram de arcar com gastos enormes. Outros, mesmo tendo feito pedidos grandes, não receberam nada.
E também houve um problema na demanda desigual. Eventos como a final dos 100m rasos e as cerimônias de abertura e encerramento tiveram grande procura, mas diversos outros esportes – como futebol, vôlei, boxe, levantamento de peso e basquete – estão com ingressos sobrando.
Até o final de junho, quase 20% dos ingressos – cerca de meio milhão – ainda não haviam sido vendidos.
As deficiências do sistema de sorteio de ingressos serão visíveis pela televisão, com algumas arquibancadas vazias em diversas competições.

3. Orçamento

Estádio olímpico
Orçamento anunciado na candidatura de Londres quase quadruplicou em 2007
Até o começo do ano, várias autoridades do governo britânico diziam que o orçamento dos Jogos seria rigorosamente cumprido e que os contribuintes não teriam que arcar com custos extra.
A meta é possível se baseada no orçamento divulgado em maio de 2010 – de 9,325 bilhões de libras (quase R$ 30 bilhões).
Mas esse orçamento sofreu duas revisões e é quase quatro vezes maior do que o prometido pelo governo britânico em 2005, quando Londres venceu a disputa para sediar os Jogos.
Na ocasião, o gasto estimado com as Olimpíadas era de 2,4 bilhões de libras (cerca de R$ 7,5 bilhões). O então governo trabalhista disse que o orçamento previsto na candidatura não envolvia uma série de investimentos necessários na estrutura pública. Além disso, custos de construção, segurança e impostos provocaram a inflação do orçamento olímpico.
Em maio de 2010, em meio à crise econômica, o governo revisou levemente para baixo o orçamento – para 9,298 bilhões de libras.
Mas agora até mesmo este orçamento está sob ameaça de ser cumprido. O plano inicial previa 10 mil agentes de segurança durante os Jogos, mas esse número foi considerado insuficiente e duplicado. As autoridades temem que isso possa acrescentar até 2 bilhões de libras (R$ 6,2 bilhões) aos custos dos Jogos, o que vai onerar ainda mais os contribuintes.

4. Transportes

Trânsito
Londres tem problemas sérios de congestionamento até mesmo em tempos normais
Londres tem problemas sérios de transporte mesmo em períodos normais, sem Olimpíadas.
Há nove anos, em uma tentativa de diminuir os congestionamentos, a prefeitura passou a cobrar uma taxa diária de todos os carros que circulam em uma área de 40 quilômetros quadrados da região central da cidade. Hoje esta salgada taxa é de 10 libras por carro por dia (cerca de R$ 30).
Para garantir que atletas, delegações, patrocinadores, imprensa e autoridades não se atrasem para as competições, os organizadores criaram mais de 50 quilômetros de pistas exclusivas. A medida provocou críticas de diversos moradores, mas sobretudo de taxistas, que queriam usufruir das pistas quando estivessem com torcedores a bordo.
Outro desafio para a cidade é o transporte público. Com altos custos para carros particulares, a população de 7,5 milhões de pessoas e os cerca de 30 milhões de turistas que visitam por ano a cidade dependem muito de ônibus e metrô para seus deslocamentos.
As autoridades estimam que nas duas semanas dos Jogos Olímpicos, haverá um aumento diário de 3 milhões de deslocamentos pela capital. Foram investidos 6,5 bilhões de libras (mais de R$ 20 bilhões) para atender a esta demanda, e o horário de fechamento do metrô será estendido para 1h da manhã em algumas estações selecionadas.
A um mês dos Jogos, o departamento de Transportes enfrentou uma greve de motoristas de ônibus, que pediam um adicional de 500 libras (R$ 1,5 mil) para trabalhar durante as Olimpíadas.
O governo também lançou uma iniciativa publicitária pedindo para a população evitar algumas regiões da cidade durante os Jogos, mas o resultado de todo esse planejamento ainda é um incógnita para as autoridades.

5. Segurança

Segurança
Cidade que já foi alvo de atentados em 2005 precisa de mais agentes de segurança
Em maio, Londres realizou um grande exercício militar envolvendo helicópteros, navios de guerra e caças. As autoridades cogitaram até mesmo instalar sistemas antimísseis no topo de alguns prédios.
Um dos objetivos era aumentar a sensação de segurança entre moradores e torcedores.
No entanto, a pouco mais de duas semanas da abertura, o governo anunciou que precisará convocar 3,5 mil soldados para preencher um "buraco" no seu planejamento.
A empresa privada contratada para fornecer 10 mil seguranças ao evento, a G4S, disse que está com problemas para conseguir treinar todos os novos contratados a tempo.
O próprio esquema de segurança já precisou passar por uma revisão recentemente, acrescentando 2 bilhões de libras aos custos dos Jogos.
Os 3,5 mil soldados adicionais anunciados nesta quinta-feira vão se somar a 13,7 mil militares já escalados para os Jogos. Eles farão parte de um plano de contingência, e ficarão de sobreaviso para emergências.
Alguns destes soldados estão voltando da campanha no Afeganistão e podem ter suas férias revogadas devido aos Jogos.

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