A
dona de casa Cleonice Ferreira de Lima, de 36 anos, reclama com
frequência do odor do rio em frente à sua casa, onde é despejado, sem
tratamento, parte do esgoto da vizinhança.
O auxiliar de serviços gerais Pedro Basílio da
Silva, de 55 anos, já nem sabe mais quantas vezes perdeu móveis e
eletrodomésticos por causa das enchentes causadas pelas chuvas.Em comum, todos são moradores da favela de Varginha, no complexo de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, onde estará o papa Francisco nesta quinta-feira. Eles aguardam com ansiedade a primeira visita de um chefe da Igreja Católica a uma favela carioca em mais de 30 anos.
A expectativa é que a visibilidade conferida à região se traduza em melhorias.
Em 1980, o então papa João Paulo 2º visitou a favela do Vidigal, na zona sul da cidade, ato considerado de grande impacto político até hoje.
Problemas e 'Faixa de Gaza'
"Além do mau cheiro, quando chove forte, precisamos organizar um verdadeiro mutirão. Do contrário, podemos perder tudo com as enchentes", diz à BBC Brasil Cleonice, que mora com o marido e os dois filhos no segundo andar de um sobrado.A pequena favela, que possui cerca de mil moradores, está localizada entre a rua Leopoldo Bulhões, a principal via de Manguinhos, e os rios Faria Timbó e Jacaré. Antes da pacificação, a avenida era conhecida como 'Faixa de Gaza' pelo histórico de violência das comunidades ao seu redor.
"Já perdi as contas das vezes que perdi móveis e eletrodomésticos por causa das enchentes. É horrível. Ficamos com medo", relata Silva, de 55 anos.
Os moradores contam que, desde que a comunidade foi escolhida para receber o papa, a prefeitura realizou melhorias, mas as obras seriam "insuficientes" frente aos problemas da comunidade.
"A favela também não tem qualquer estrutura para pessoas portadoras de deficiência, como é o caso do meu neto", diz Cláudia Felício Ribeiro, de 49 anos, ao lado de seu neto, Jonathan, de 16 anos.
Roteiro e surpresas
Em Varginha, Francisco fará uma celebração prevista para durar 1 hora na modesta igreja de São Jerônimo Emiliani, situada logo na entrada da comunidade. Encerrada a cerimônia, discursará em um campo de futebol próximo. Também está previsto que o pontífice faça uma visita-surpresa às casas de alguns moradores.Antes de chegar à entrada da favela, no entanto, o pontífice deve percorrer um trajeto de 850 metros em carro aberto, o mesmo veículo usado durante sua chegada ao Rio na segunda-feira.
A visita à comunidade é o segundo compromisso oficial do papa nesta quinta-feira. No início da manhã, ele se encontra com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, de quem recebe as chaves da cidade. O pontífice também irá benzer as bandeiras olímpicas - o Rio sediará os Jogos Olímpicos de 2016.
Expectativa e emoção
Apesar das queixas, os moradores não escondem a ansiedade de ver o pontífice.Cleonice vibra com a possibilidade de que o papa escolha sua casa para visitar. Seu filho mais velho, Leonardo, de 15 anos, é coroinha da igreja local e participará da celebração com Francisco.
"Faço parte do grupo de oração e estou muito emocionada com essa visita do papa. Não vejo a hora dele chegar", diz.
A sensação é compartilhada por Oliveira, responsável pelo comitê organizador da visita do pontífice.
"Nem sei se vou conseguir dormir de tanta ansiedade. O impacto espiritual com certeza será muito grande".
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