sexta-feira, 5 de julho de 2013

Guerra na Síria atrai à luta jovens europeus sem relação com o país

As histórias de jovens belgas que vêm se unindo às forças rebeldes na Síria, reveladas quase que diariamente pelos jornais locais, estão colocando em evidência a diversificação no perfil dos combatentes europeus exportados a uma guerra estrangeira.
O Ministério de Interior da Bélgica estima que, em meio aos cerca de 600 europeus que lutam com as forças da oposição na Síria, haja entre 80 e 100 belgas, dos quais nove teriam regressado e estão sendo investigados por suspeita de ligações com movimentos extremistas.
"Em todas as guerras se recrutam estrangeiros. Foi assim no Afeganistão, no Golfo, na antiga Iugoslávia. A diferença agora, com a Síria, é que não se tratam de mercenários", afirmou Hamid Benichou, administrador do centro comunitário Bruxelles Espace Intercommunnautaire, em entrevista à BBC Brasil.
"A motivação passou a ser também humanitária, então eles (os combatentes estrangeiros) não se escondem, porque não são tão mal vistos pela comunidade. Combate-se um (regime considerado) tirano, como foi o caso na Líbia", explicou o líder comunitário, a quem as famílias de alguns jovens pediram ajuda.

Jovens ocidentais

Nos casos relatados pela imprensa belga, os protagonistas não são exclusivamente homens originários de famílias muçulmanas, com vínculos com a Síria ou a cultura local, recrutados por grandes grupos radicais.
Muitos dos combatentes estrangeiros na Síria são jovens de famílias ocidentais católicas de classe média, que optaram pelo islã e decidiram ir por conta própria ao país árabe, alguns para defender ideias religiosas radicais, mas muitos deles com a convicção de ajudar uma população oprimida.
Foi o que argumentou com seus familiares Sean, 23 anos, cuja morte em combate a meados de março levou os pais a revelar sua história à imprensa, incentivando uma série de outros depoimentos similares, com a esperança de pressionar as autoridades a agir.
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Em poucos meses a Bélgica conheceu as histórias de Sammy, 23 anos, Bilal, 15 anos, Jejoen, 18 anos, e Brian, 19 anos, filho de mãe brasileira e pai belga.
Há também Zacharia e Ismail, dois irmãos marroquinos de 23 e 16 anos, descritos pela família como muçulmanos moderados e estudantes aplicados, que embarcaram para a Turquia no começo do ano, com três meses de intervalo.

Chamado de Alá

Jean-Louis Denis
Jean-Louis Denis é acusado de ajudar jovens belgas a se unir aos rebeldes sírios
"Hoje em dia é fácil ter dinheiro para comprar uma passagem e pegar um avião para a Turquia. Ninguém precisa passar por uma fileira de recrutamento", afirmou à BBC Brasil Jean-Louis Denis, um belga convertido ao islã, acusado de ter incentivado Sean, Sammy e Zacharia a unir-se aos rebeldes sírios.
"Quando os conheci eles já tinham convicções, já tinham ouvido o chamado de Alá. Eles queriam ajudar. Por que não iriam ajudar os órfãos e as mulheres que são estupradas pelo exército sírio?", disse.
Denis está sendo investigado pela polícia belga por suspeita de pertencer ao grupo radical Sharia4Belgium e pelo discurso extremista que prega à frente do Resto do Tawhid, uma associação que criou para distribuir comida aos necessitados em Bruxelas.
A iniciativa foi proibida quando surgiram as suspeitas de que Denis se utilizou dela para recrutar Sean, Sammy e Zacharia.
Para as autoridades europeias e belgas que alertam para a ameaça que representa o regresso à UE de jovens como eles, Denis adverte: "Em geral, quem vai para lá vai para morrer como mártir, não vai pensando em voltar. Um verdadeiro muçulmano não tem medo da morte. Ele ama a morte como você ama a vida".

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