domingo, 7 de julho de 2013

Vizinhos se dividem quanto a desdobramento de golpe no Egito

Passada sua Primavera Árabe, o norte da África está dividido quanto a como reagir aos desdobramentos da crise no mais poderoso país árabe - o Egito.
Grupos a favor e contra o presidente deposto, o islamita Mohammed Morsi, voltaram a tomar as ruas do Cairo neste domingo, e tampouco há confirmação quanto a quem ocupará o cargo de premiê interino do Egito até que novas eleições sejam realizadas.
Na vizinha Líbia, no último ano e meio, a reportagem da BBC conheceu jovens tanto relativamente entusiastas da Irmandade Muçulmana (o movimento político de Morsi) quanto hostis à ideologia do grupo.
Líbios que não votaram na Irmandade se tornaram cada vez mais desconfiados de suas intenções de longo prazo e elogiaram o golpe militar que derrubou Morsi, defendendo uma "segunda revolução" para a própria Líbia.
Mas contra quem os líbios irão se rebelar, considerando que eles não têm mais uma figura central ou militar em seu governo?
A população líbia está em sua maioria descontente com o poder Legislativo - o Congresso Geral Nacional eleito há mais de um ano - e com a profusão de brigadas e milícias existentes no país.

Divisão ideológica

Após a derrubada de Morsi, o ativista líbio Ibrahim, que participou dos protestos contra o antigo regime líbio de Muamar Khadafi em 2011, diz apenas que "o que aconteceu no Egito vai acontecer na Líbia".
Ele não vê a intervenção do Exército egípcio como um golpe. "Eles fizeram isso (a deposição de Morsi) para proteger a vontade do povo", diz em entrevista telefônica à BBC de Benghazi.
Já a advogada líbia Hanna Ghallal enxerga dois lados da moeda no Egito.
Como ativista, ela acha que a população se revoltou contra Morsi porque quer "dignidade e uma democracia real, que não termina nas urnas". Ao mesmo tempo, como advogada, ela não acredita que a intervenção militar deva ser comemorada. "Agora eles são parte do conflito, e o Exército deveria ser imparcial".
Ibrahim e Hanna concordam em uma coisa: ambos veem o Egito imerso em uma profunda divisão ideológica, à beira de um conflito civil que poderia se espalhar para o lado deles da fronteira.
"Se o Egito se desestabilizar, imagine o que acontecerá com a Líbia", diz Hanna. "Dependemos deles para segurança de fronteira, porque não temos o Exército para fazer isso."

Temor de guerra civil

Mais a oeste na África, tunisianos foram um passo além: eles copiaram o Egito e começaram seu próprio Tamarod ("rebelião", nome dado ao movimento que pediu a retirada de Morsi).
Taieb Moalla, correspondente tunisiano de um jornal francês e ativista, está perplexo pelos fatos recentes.
"A situação (no Egito e na região) já esteve clara e fácil. Agora não está mais."
Ainda que ele também não veja a queda de Morsi como um golpe de Estado tradicional - argumentando que milhões de egípcios apoiaram a medida -, ele tampouco acredita que a intervenção do Exército visa a democracia ou o bem-estar do povo.
"Há sinais de uma guerra civil", opina ele. "É possível (que isso aconteça) porque Morsi vai se tornar mais popular entre seus apoiadores e (sua saída) pode radicalizar a Irmandade Muçulmana."
Ainda que a Tunísia tenha um partido islâmico moderado - o Ennahda, vitorioso nas eleições de 2011 -, Moalla não acha que o golpe militar que aconteceu no Egito possa se repetir em seu país.
"Ao contrário do Egito, nosso Exército não tem tradição de envolvimento político. Não tivemos líderes militares", diz ele. "E o Ennahda também tem sido mais conciliatório - há uma coalizão de governo. Eles foram espertos e entenderam que não poderiam governar sozinhos."
Para muitos, foi nesse ponto - a conciliação - que o governo deposto do Egito fracassou.
Em geral, revoluções estão relacionadas a ideais românticos de transformação, mas na vida real elas são seguidas de um período de turbulência e confusão sobre quais passos tomar e quem é a pessoa ideal para realizá-los.
Nesses três países, as revoluções da Primavera Árabe também trouxeram a ascensão do islã político. A forma como esses elementos se combinarão vai determinar se as transições de poder serão bem-sucedidas.

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