sábado, 20 de julho de 2013

Clima de protestos influencia visita e discurso de papa no Brasil

O efervescente clima político do Brasil deve ser um ator importante na primeira visita do papa Francisco ao Brasil, a partir de 22 de julho, para a Jornada Mundial da Juventude.
A cúpula da Igreja Católica brasileira já indicou que o papa deve mencionar a onda de protestos populares em seu discurso; ao mesmo tempo, autoridades brasileiras antecipam mais manifestações durante a visita do pontífice.
Na segunda-feira, o cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, dissera que o papa "certamente terá palavras para as questões levantadas pelos jovens (durante as manifestações), para as suas muitas insatisfações e seu desejo de mudanças".
Reportagem do jornal espanhol El País afirma que o papa considerou as manifestações "coerentes com o evangelho" e que ele teria mudado seu discurso da Jornada Mundial da Juventude para abordar a onda de protestos.
O papa foi informado dos protestos pelo cardeal Dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida, em visita a Roma. Segundo Dom Raymundo, o pontífice "vê tudo isso como como algo natural, num país democrático onde as pessoas podem e devem, às vezes, manifestar seus anseios" a seus governantes.
Na terça-feira, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) informou que há um "alerta vermelho" para protestos de "grupos de pressão" (espontâneos) e um "alerta laranja" para os movimentos "reivindicatórios" (organizados por categorias profissionais ou sociais) no período da Jornada, que deve reunir milhões de pessoas no Rio de Janeiro e em Aparecida do Norte (SP).
Alguns grupos já anunciaram a organização de protestos para coincidir com a visita do papa - um deles para questionar os gastos públicos que ajudaram a financiar a própria Jornada Mundial da Juventude. É possível que o roteiro do pontífice seja alterado para garantir a segurança - algo que o Vaticano negou.
Em entrevista coletiva na quarta-feira, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, disse que o papa Francisco dispensará o "papa-móvel" blindado durante sua passagem pelo Brasil e "confia na habilidade das autoridades brasileiras em lidar com a situação (de eventuais protestos)", informou a agência France Presse.

Tônica social

O tom do discurso papal deve refletir o atual momento e a tônica, adotada desde o início de seu pontificado, de enfatizar as políticas sociais voltadas à população mais carente, diz à BBC Brasil André Ricardo de Souza, estudioso da religião no departamento de sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
"Esse é o foco do discurso dele. Não o imagino fazendo críticas diretas ao governo, mas sim focando os mais pobres e necessitados, com uma mensagem social forte", diz Souza.
Papa Francisco
Papa vê manifestações 'como algo natural num país democrático', disse cardeal brasileiro
Para Paulo Fernando Carneiro de Andrade, do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-RJ, uma prévia disso foi observada no discurso do papa durante sua visita, no início do mês, à ilha italiana de Lampedusa – por onde muitos imigrantes irregulares tentam entrar na Europa. Na ocasião, o papa fez uma crítica à "globalização da indiferença" ante o drama dos imigrantes.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou também que o papa, como argentino, é um "conhecedor do contexto social" latino-americano e que isso deve se refletir em suas declarações durante a passagem pelo Brasil.

Contexto

Além dos protestos, há outros fatores importantes que contextualizam a atual visita, como a queda na proporção de católicos no Brasil – o maior país católico do mundo – e a tentativa da igreja a reagir aos escândalos de corrupção e pedofilia.
Poucas semanas antes da Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco decretou mudanças nas leis do Vaticano, alterando seu código penal para tipificar crimes sexuais (incluído o de pedofilia) e financeiros (como o de lavagem de dinheiro).
Todo esse contexto cria um "momento singular" para a visita do papa, afirma Carneiro de Andrade, num momento em que a igreja faz aceno à juventude para estancar perda de fiéis.

O roteiro do papa Francisco no Brasil

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