sexta-feira, 5 de julho de 2013

Disparos e mortes em protestos pró-Morsi reforçam temores por futuro do Egito

Dramáticas cenas de partidários do presidente egípcio derrubado Mohammed Morsi alvejados por balas nas ruas do Cairo reforçam a visão de "fracasso" do relançamento do sistema político de democracia no país.
As forças de segurança estão prendendo líderes do grupo islâmico Irmandade Muçulmana e dos seus partidos políticos, que juntos formam o maior movimento político e social do Egito.
Essas detenções ecoam a repressão dos tempos do ex-presidente Hosni Mubarak, derrubado nos protestos da Primavera Árabe em 2011, corroborando os temores de vários analistas de uma polarização ainda mais profunda no país e uma eventual radicalização por parte das organizações militantes muçulmanas.
Pelo menos três pessoas morreram nesta sexta-feira, depois que soldados do Exército egípcio dispararam contra partidários de Mohammed Morsi que se aproximavam de uma base militar na capital, Cairo.
Cerca de 2 mil pessoas marcharam pelas ruas em direção ao Clube de Oficiais da Guarda Presidencial, onde acredita-se que Morsi esteja detido.
Os disparos ocorreram quando os manifestantes tentaram colocar cartazes com o rosto de Morsi no arame farpado do lado de fora do clube.
Segundo o correspondente da BBC no local, Jeremy Bowen, inicialmente, os militares dispararam para o alto e depois, contra os manifestantes. O correspondente da BBC viu um homem cair no chão com as roupas ensanguentadas e também ouviu disparos vindo do lado dos manifestantes.
Pessoas continuavam chegando ao local da manifestação e a multidão vinha se mostrando cada vez mais agitada, segundo Bowen, que também ficou levemente ferido depois de ser atingido na cabeça por fragmentos de projéteis de bala disparados por espingarda.
Um porta-voz do Exército negou que os soldados tenham disparado contra os manifestantes com munição comum.

Fora do Cairo

Também ocorreram confrontos fora da capital. Um repórter da BBC viu soldados na cidade de Qina, no sul do país, disparando contra manifestantes partidários de Morsi que tentavam invadir um prédio. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas. Também foram disparados tiros na cidade de Alexandria, no norte, a segunda maior do Egito.
Em meio à tensão, o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, disse que os simpatizantes do presidente irão permanecer nas ruas até que Morsi seja reconduzido ao poder.
Badie pediu aos militares que não abrissem fogo contra seus próprios compatriotas.
Muitos analistas disseram que este seria um momento de perigo, não apenas para o Egito, como também para todo o Oriente Médio.
Depôr um líder islamista democraticamente eleito e suspender a Constituição poderia ser interpretada como uma mensagem contundente por islamistas políticos: não compensa escolher o voto em vez da bala.

Queda de Morsi

A derrubada de Morsi pelo Exército veio após dias de grandes protestos organizados principalmente pelo movimento Tamarod (Rebelde).
Nesta sexta-feira, o Tamarod pediu que os manifestantes voltassem para as ruas para "proteger a revolução".
Os manifestantes acusaram Morsi e o seu movimento islâmico, Irmandade Muçulmana, de tentar impor uma pauta islamista no país, contra os desejos da maioria, e de ter se mostrado incapaz de resolver os problemas econômicos que o país enfrenta.
Depois de vários dias de protestos, nas quais dezenas de pessoas morreram, o Exército anunciou a suspensão da Constituição e a indicação de um governo interino, liderado pelo chefe da Suprema Corte Constitucional, Adli Mansour.
Depois de sua deposição, Morsi, o primeiro presidente eleito livremente no país, permanece detido junto com outros membros da liderança da Irmandade Muçulmana. Mandados de prisão também foram emitidos contra outras 300 pessoas.
Mansour assumiu o poder na quinta-feira e prometeu a realização de novas eleições gerais em breve.
Soldados em frente ao Clube de Oficiais no Cairo (AP)
Disparos teriam ocorrido depois que manifestantes tentaram colocar cartazes de Morsi no arame farpado
Nesta sexta-feira, Mansour dissolveu a Câmara Alta do Parlamento egípcio, ou Conselho Shura, que era dominado por partidários de Morsi e serviu como o único Legislativo do país depois que a Câmara Baixa foi dissolvida, em 2012.
Mansour também indicou um novo chefe para o serviço secreto do país, Mohamed Ahmed Farid.

Suspensão

Por não concordar com a derrubada de Morsi, a União Africana suspendeu, nesta sexta-feira, o Egito da organização até que a ordem constitucional seja restaurada no país.
O ministro do Exterior britânico, William Hague, afirmou que está muito preocupado com as mortes ocorridas nesta sexta-feira no Cairo. Hague acrescentou que é precismo manter a calma e evitar uma piora na situação do país.
O líder do governo do Hamas na Faixa de Gaza, Ismael Haniya, aliado do presidente deposto do Egito, afirmou que espera que os últimos acontecimento no país não afetem as relações bilaterais.

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