quinta-feira, 27 de junho de 2013

Blogueiros revelam várias caras e causas de protestos

Os protestos que tomaram as ruas de centenas de cidades brasileiras tiveram como estopim o aumento de tarifas do transporte público.
Mas aos poucos as bandeiras e cartazes foram mudando, exibindo causas mais urgentes e próximas aos manifestantes e trazendo à tona um vasto e variado leque de reivindicações locais.
No Rio de Janeiro, moradores de favelas protestaram contra as remoções forçadas provocadas por obras da Copa do Mundo ou contra supostos abusos cometidos por policiais durante a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Na periferia de São Paulo, movimentos locais estiveram à frente de diferentes protestos, levando pautas diferentes, como a demanda por mais espaços culturais.
Em Belo Horizonte e em suas imediações, onde as passagens chegam a preços considerados extremos, moradores do centro e da periferia protestaram não apenas por melhorias no sistema de transporte, mas também por melhores serviços de educação e saúde.
A condenação da brutalidade policial também se tornou bandeira de vários protestos, principalmente após as notícias de disparos de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes em protestos pacíficos.
Confira a seguir uma série de relatos oferecidos pelos blogueiros do coletivo ''Palanque BBC'', projeto da BBC Brasil organizado pelo jornalista Bruno Garcez, que reúne jornalistas de diferentes cidades brasileiras.
O objetivo é abordar os problemas que afetam esses municípios, noticiando temas que muitas vezes escapam ao radar da grande mídia.

Moradores das favelas cariocas estiveram presentes nas manifestações desde o começo. A jornalista Thamyra Thâmara, da favela do Complexo do Alemão e integrante do coletivo OcupaALEMÃO, conta que no início dos protestos muitos moradores das comunidades não estavam levantando bandeiras específicas.
''No primeiro momento, estávamos lá mais como observadores. Documentando e buscando entender como aquilo tudo se relacionava com a gente diretamente, talvez buscando identificação com o movimento'', explica.
Diferentes coletivos de favelas estavam presentes nas manifestações. Alguns com o intuito de documentar o movimento em fotos e vídeos.
Foi o caso dos fotógrafos populares do projeto Imagens do Povo, da escola de fotografia da Favela da Maré, e do Fórum de Juventude do Rio de Janeiro, formado por jovens de diferentes comunidades.
Por meio das redes sociais, em especial pelo Facebook, vídeos feitos por comunicadores populares eram difundidos na internet, trazendo outros olhares sobre os protestos e as demandas de quem também é afetado diretamente com as mudanças na cidade - demandas que muitas vezes não são noticiadas.
Foto - João Lima
Protesto no Complexo do Alemão (Foto: João Lima)

No ato do dia 20, nas favelas do Complexo do Alemão e de Manguinhos, moradores se organizaram e fretaram dois ônibus para irem ao Centro.
A juventude das favelas sentiu a necessidade de ter uma participação mais ativa no movimento. E levou muita gente, exibindo reivindicações das comunidades cariocas: "Não às remoções"; "Contra o genocídio da juventude negra"; "UPPs e seus abusos"; "Contra a resolução 013", em menção à medida que impede a realização de eventos culturais, esportivos e sociais sem a autorização prévia das autoridades locais - no caso das favelas pacificadas, do comandante da UPP.
Thamyra resume o espírito da juventude: ''Estamos numa disputa de cidade e de discurso. Se a gente não aproveitar o 'bonde' e entrar agora, vamos entrar quando? Até quando a juventude de favela vai estar fora do debate da cidade, da cidadania, dos direitos?"
"Para mim, a manifestação em si não é o mais importante. O importante é o que vem daí. O que faremos a partir daí?'', indaga a jornalista.
* Raika Julie e Silvana Bahia são integrantes do projetoClique Observatório de Favelas, uma organização que faz pesquisas, consultorias e ações públicas sobre as favelas e fenômenos urbanos.

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