domingo, 21 de abril de 2013

Investigação em Boston focará em viagem de suspeito à Chechênia

Agentes do FBI devem focar suas investigações – sobretudo o aguardado interrogatório com o suspeito Dzhokhar Tsarnaev, de 19 anos, que permanece hospitalizado – em uma viagem de seis meses à Rússia feita por Tamerlan Tsarnaev, morto na sexta-feira e também suspeito de planejar e executar o atentado à Maratona de Boston, que matou três pessoas e feriu mais de 170.
Dzhokhar Tsarnaev foi encontrado escondido em um barco guardado em um quintal no distrito de Watertown, perto de Boston. Ele teria sido baleado várias vezes e, depois de ser capturado, foi levado para um hospital local. Os médicos consideram seu estado grave, porém estável.
A informação da viagem de seu irmão veio à tona na noite de sexta-feira, quando o FBI, a polícia federal americana, divulgou uma nota admitindo que, em 2011, recebeu um pedido de informações de um "governo estrangeiro" que se mostrava preocupado com o fato de que Tamerlan Tsarnaev, morto aos 26 anos, se preparava para deixar os Estados Unidos e viajar ao Daguestão e à Chechênia.
O comunicado não diz que "governo estrangeiro" fez o pedido, mas dois oficiais do FBI confirmaram, sob condição de anonimato, à agência de notícias "Associated Press" e ao jornal "The New York Times" que se trata da Rússia.
Segundo os oficiais, os serviços de inteligência russos monitoravam o suspeito, que, assim como o irmão, nasceu no Quirguistão, país da Ásia Central, e anos depois mudou-se para os Estados Unidos, embora a família seja originária do cáucaso russo – onde ficam o Daguestão e a Chechênia, de maioria muçulmana.
As duas regiões já tiveram sérios conflitos com Moscou, e somente a Chechênia já foi palco de duas guerras entre militantes separatistas, que buscam a independência, e forças do Exército russo. Os conflitos levaram ao fortalecimento de movimentos extremistas islâmicos que já foram responsáveis por diversos atentados na Rússia, como ao metrô de Msocou, em 2010, com mais de 30 mortes.

Motivos e viagem

Ainda não há clareza sobre os motivos que podem ter levado os suspeitos a colocarem em prática os atentados e ligações diretas dos dois com extremistas islâmicos chechenos ou grupos separatistas também não foram publicamente apresentadas.
Imagens cedidas pela CBS mostram momento em que Dzhokhar Tsarnaev sai do barco (AFP/Getty)
Imagens cedidas pela CBS mostram momento em que Dzhokhar Tsarnaev sai do barco
Mas o fato de um deles ter viajado por seis meses à Chechênia pouco após parentes detectarem uma inclinação religiosa cada vez maior, aliado aos pedidos de informação feitos ao FBI é uma das principais pistas no momento – e pode conter dados cruciais para a investigação.
Segundo a nota do FBI, o pedido do "governo estrangeiro" se baseava no fato de que o imigrante, que ainda não tinha cidadania americana, era "um seguidor do islã radical e um fiel intenso, que tinha mudado drasticamente desde 2010, e que se preparava para deixar os Estados Unidos para viajar à esta região do país para juntar-se a grupos clandestinos não especificados".
Em resposta, agentes americanos investigaram ligações telefônicas, uso de sites associados ao extremismo, histórico de viagens e de formação acadêmica, além de potenciais ligações com pessoas ou grupos suspeitos, e chegaram a interrogar o próprio suspeito e membros de sua família, mas não encontraram evidências que o colocassem em conexão a atividades terroristas.
Outras fontes do Departamento de Segurança Nacional, no entanto, disseram ao "New York Times" que as suspeitas levaram seu pedido de cidadania a ser negado, enquanto seu irmão, Dzhokhar Tsarnaev, já tinha conseguido o passaporte americano.

Família

Em entrevistas à agência de notícias russa RIA Novosti, o pai dos jovens disse que o FBI interrogou Tamerlan por "duas ou três vezes", e que a justificativa tinha sido a de que o inquérito era "profilático, para que ninguém detone bombas nas ruas de Boston".
Um dos tios dos dois irmãos, Ruslan Tsarni, que mora nos Estados Unidos, disse à "Associated Press" que cortou relações com Tamerlan em 2009, quando, numa ligação telefônica, o jovem declarou que passara a considerar os "assuntos de Deus" mais importantes do que o trabalho ou os estudos.
Comemoração em Watertown (Reuters)
Depois de confirmação de captura de suspeito, moradores foram para as ruas comemorar
Quanto a Dzhokhar Tsarnaev, Tsarni diz que "ele foi absolutamente corrompido por seu irmão mais velho. Ele o usou, ele o usou para o que quer que tenha feito".
Em sua nota, o FBI diz ter enviado os resultados de suas investigações ao "governo estrangeiro" na metade do ano de 2011, e que depois disso não recebeu mais pedidos de informação.
A inteligência americana nunca mais manteve interrogatórios ou investigou as ações de Tamerlan, mesmo após retornar da viagem à Chechênia, mas agora agentes do FBI correm contra o tempo para tentar obter dados da estadia do suspeito no cáucaso russo, incluindo quaisquer conexões com extremistas que possam tê-lo influenciado, treinado ou direcionado, diz o "New York Times".
O governo da Rússia afirmou neste sábado que o presidente, Vladimir Putin, conversou por telefone com o colega americano, Barack Obama, e os dois concordaram em aumentar a cooperação depois dos ataques.
Em um discurso em cadeia de televisão momentos após a confirmação da caputra de Dzhokhar Tsarnaev, Obama afirmou que o maior desafio das autoridades a partir de agora será descobrir o motivo dos ataques e se há mais pessoas envolvidas.

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