Depois de entregarem 43 documentos relativos à ditadura militar no
Brasil à Comissão Nacional da Verdade (CNV), os Estados Unidos vão
continuar colaborando com os trabalhos do colegiado e enviar novas
informações sobre o período.
Após visita à Embaixada dos Estados
Unidos em Brasília, integrantes da CNV confirmaram que o governo
norte-americano vai continuar desclassificando documentos antes
considerados sigilosos e entregando-os à comissão.
“Fomos
informados pela embaixadora que o presidente Barack Obama manifestou
interesse em dar continuidade à operação. Então, o processo de
desclassificação de documentos nos Estados Unidos e envio para nós deve
continuar. Devemos receber mais documentos no segundo semestre”, disse o
coordenador da CNV, Pedro Dallari. Ele também explicou que o envio de
documentos daquele país ao Brasil deve continuar mesmo após o
encerramento dos trabalhos da comissão, em dezembro deste ano. “Esse é
um dos legados da comissão”, disse Dallari.
Outros países também
têm cooperado com a CNV na prestação de informações sobre o período da
ditadura brasileira. Esta semana, a Comissão pela Memória da Província
de Buenos Aires (CPM) entregou à comissão brasileira o relatório
Victimas del Terrorismo de Estado. O documento traz informações sobre o
desaparecimento de 11 brasileiros na Argentina, além de dados sobre seis
argentinos presos e desaparecidos no Brasil. A CNV também recebeu
detalhes sobre o monitoramento sofrido pelo ex-presidente João Goulart
quando este esteve no país vizinho.
Além da Argentina e dos
Estados Unidos, Alemanha, República Tcheca, Itália, Santa Sé e França,
além de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas e
a Corte Interamericana de Direitos Humanos, já disponibilizaram
documentos sobre violações de direitos humanos no período da ditadura
brasileira.
O professor Paulo Sérgio Pinheiro, membro da CNV,
lamentou que as Forças Armadas não tenham postura semelhante à de tantos
países que cooperam com a comissão. “É constrangedor para a Comissão
Nacional da Verdade ver tantos países cooperando enquanto as próprias
Forças Armadas brasileiras se recusam a reconhecer que houve tortura em
suas instalações”, criticou.
Durante toda a semana, a comissão
seguirá ouvindo depoimentos de militares envolvidos em violações de
direitos humanos durante o regime militar. Para hoje, está previso o
depoimento do Capitão Roberto Amorim Gonçalves, responsável por receber
informações de agentes na Operação Sucuri, que infiltrou militares na
área ocupada pela Guerrilha do Araguaia.
Amanhã (23), a comissão
deve ouvir Cláudio Guerra, investigador da Polícia Civil do Espírito
Santo, ligado ao Esquadrão da Morte, e que atuou em operações com
agentes da repressão no Rio de Janeiro. Além dele, outros dois
convocados, cujos nomes não foram revelados, também devem depor na sede
da CNV esta semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário