quinta-feira, 14 de novembro de 2013

João Goulart recebe, 37 anos após sua morte, as honras negadas pela ditadura

Os restos mortais do ex-presidente João Goulart, deposto pela ditadura militar em 1964 e que morreu na Argentina há 37 anos, receberam nesta quinta-feira em Brasília as honras fúnebres reservadas a um chefe de Estado, que lhe haviam sido negadas anteriormente.
O corpo de Jango foi exumado ontem e o caixão foi recebido na Base Aérea de Brasília em cerimônia liderada pela presidente Dilma Rousseff. A exumação procura determinar se ele foi envenenado como parte da Operação Condor.
João Goulart é o único presidente brasileiro morto durante o exílio e o único que não foi homenageado na época de seu falecimento com "o ritual concedido a todos os chefes de Estado".
Isso porque o regime militar, que o tirou do poder em 64 e que governou o país até 1985, apesar de permitir a repatriação do corpo, autorizou apenas que o ex-presidente fosse sepultado em São Borja, sua cidade natal, sem honras.
Esta omissão foi reparada hoje em uma cerimônia militar de cerca de meia hora e sem pronunciamentos. Estiveram presentes os ex-presidentes José Sarney (1985-1990), Fernando Collor (1990-1992) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), assim como as principais autoridades do Judiciário e do Legislativo.
"Este é um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua memória. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove hoje com a memória de João Goulart é uma afirmação da nossa democracia. Uma democracia que se consolida com este gesto histórico", assegurou Dilma em mensagem no Twitter.
Após um complexo processo de exumação, que se prolongou por 18 horas em São Borja, o caixão foi colocado em uma urna funerária especial, que foi transportada a Brasília em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
O caixão, coberto com a bandeira brasileira e a faixa fúnebre reservada aos chefes de Estado, foi carregado por militares enquanto uma banda interpretava o hino nacional. Foram disparados 21 tiros de canhão e içada a bandeira enquanto o cortejo fúnebre passou por revista das tropas das três forças militares.
Após as honras militares, Dilma e a viúva de Jango, Maria Thereza Goulart, se aproximaram do caixão para depositar as flores.
"Ele (Jango) não teve este momento nem uma autópsia. Acho que a homenagem podia ter sido feita, mas ninguém foi capaz. Acho que este reconhecimento é um ato de coragem que ele merecia", assegurou a viúva.
Para a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, testemunha da exumação e que acompanhou os restos mortais até Brasília, o ato foi um "resgate histórico, justiça e valorização democrática". Já Dilma lembrou as "circunstâncias ainda não esclarecidas" nas quais morreu o ex-presidente.
Após a cerimônia, os restos mortais de João Goulart foram transferidos sob escolta policial até a sede da Polícia Federal, onde serão realizados os exames periciais.
A exumação foi ordenada pela Justiça para a realização de exames que permitam estabelecer se Jango morreu de ataque cardíaco, como afirma a documentação oficial, ou se foi assassinado por envenenamento como parte da Operação Condor, que visava eliminar opositores instalados em outros países.
Jango morreu em 1976 em um hotel da cidade argentina de Mercedes supostamente vítima de um ataque cardíaco, segundo consta o certificado de falecimento expedido sem a respectiva autópsia. Essa versão foi desmentida há cinco anos por um ex-membro do serviço secreto uruguaio, que assegurou que o ex-presidente foi envenenado.
Outros depoimentos de ex-agentes de inteligência também sustentam a hipótese que Jango foi envenenado como parte do plano coordenado pelos regimes militares do Cone Sul nos anos 70 e 80.
Os depoimentos e um pedido da família, que sempre suspeitou de envenenamento, obrigaram o Ministério Público a abrir uma investigação em 2007 para determinar as causas da morte e solicitar a exumação do corpo.

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