sábado, 17 de agosto de 2013

Forças egípcias cercam mesquita que abriga manifestantes pró-Morsi

Forças de segurança do Egito entraram na mesquita de al-Fath, na praça Ramsés, no Cairo, onde se concentram centenas de apoiadores do presidente deposto do Egito Mohammed Morsi - todos membros do partido da Irmandade Islâmica - para tentar convencer os manifestantes a deixarem o local.
No momento, barricadas protegem a entrada do prédio e a tensão é reforçada pelo grande número veículos armados e de homens da polícia que cercam toda a área no entorno da Mesquita.
Os manifestantes dizem que não acreditam na promessa do governo que permitir a saída de todos de maneira segura, sem ações de violência, por isso se recusam a deixar o local.
Na sexta-feira, outro violento confronto entre a polícia e membros da Irmandade Islâmica deixou um total de 173 pessoas mortas (os últimos dados das autoridades de saúde egípcias) e mil manifestantes foram presos.
Esse último confronto aconteceu depois que um protesto organizado pela Irmandade Islâmica tomou novamente as ruas do Cairo em resposta aos atos do governo egípcio, que desocupou os dois acampamentos do grupo na capital - a ação deixou pelo menos 638 mortos e milhares de feridos.

Escalada da violência

Confrontos no Egito | Foto: AFP
  • 3 Julho: Presidente Mohammed Morsi é deposto por militares depois de grandes protestos
  • 4 Julho: Manifestantes apoiadores de Morsi se concentraram em acampamentos nas áreas de Rabaa al-Adawiya e Nahda no Cairo
  • 27 Julho: Mais de 70 pessoas foram mortas em confrontos com as forças de segurança em Rabaa al-Adawiya
  • 14 Agosto: Forças de segurança do Egito iniciam desocupação dos acampamantos em Rabaa al-Adawiya e Nahda, deixando um saldo de 638 mortos e milhares de feridos.
A Irmandade Islâmica pede o reestabelecimento de Mohammed Morsi ao poder - o primeiro presidente do Egito eleito democraticamente - que foi retirado da presidência no mês passado pelo exército e reposto por um governo interino.

Medo

Neste sábado, a polícia tomou conta da mesquita de al-Fath, na praça Ramsés, no Cairo, onde apoiadores de Morsi entraram para se proteger.
Alguns agentes das forças de segurança egípcias chegaram a entrar no prédio na tentativa de convencê-los a sair.
Imagens ao vivo das TVs egípcias mostraram que homens da polícia do lado de fora da mesquita utilizavam uniformes especiais para uso em confronto.
Em uma ocasião, os homens das forças de segurança atiraram para o ar para manter protestantes à distância quando um pequeno grupo de mulheres foi escoltado para sair da mesquita.
Outros apoiadores de Morsi também deixaram a mesquita, mas correspondentes dizem que dezenas de manifestantes que estão no salão de entrada se recusam a sair.
A BBC conversou com dois manifestantes dentro da mesquita que dizem estar com muito medo de perder a vida.
Eles disseram à BBC não acreditar nas autoridades, que prometeram uma saída segura da mesquita.
Eles ainda confirmaram a existência de dois corpos dentro do local - o de uma mulher que teria morrido depois que uma bomba de gás lacrimogênio jogada pela polícia explodiu dentro da mesquita e de outro homem que teria sido levado para dentro da mesquita com ferimentos a bala.
Os manifestantes que falaram à BBC ainda disseram que o grupo dentro da mesquita tem água para beber, mas apenas um banheiro.
Cerca de mil pessoas entraram na mesquita para se proteger dos confrontos que tomaram conta da praça Ramsés, na sexta.
Oficiais de segurança afirmaram em entrevista à agencia de notícias Mena News que "elementos armados" fizeram disparos de dentro da mesquita.
Membro da Cruz Vermelha atuando | Foto: divulgação
Sem infra-estrutura, Cruz Vermelha atende feridos nas ruas
A mesquita acabou rapidamente se enchendo com mortos e feridos, além dos que estava procurando refúgio para se proteger dos confrontos.
O ministro egípcio do interior disse em nota neste sábado que 1.004 "elementos da Irmandade Islâmica" foram presos na sexta, sendo 558 apenas no Cairo.

'Dia de ira'

A Irmandade Islâmica se manteve nas ruas desde que o exército depôs o presidente Mohammed Morsi no dia 3 de julho.
Na última quarta-feira, pelo menos 638 pessoas morreram quando dois dos acampamentos da Irmandade Islâmica foram desocupados, ação que ganhou repercussão internacional, com vários líderes condenando os atos de violência contra os manifestantes.
Nos protestos de sexta, que ganhou o nome de "dia de ira", foi um levante contra a violenta ação do governo na quarta.
O governo interino do Egito declarou estado de emergência, incluindo toques de recolher na capital e em outras áreas.
O ministro do interior disse que a polícia foi autorizada a utilizar armas carregadas com munição verdadeira, o que estaria dentro de "medidas legais".

Expecativa

Correspondentes dizem que o clima no Cairo é tenso, com muitos homens das forças armadas e veículos armados nas ruas.
O exército bloqueou todas as entradas da praça de Tahrir - o palco principal dos manifestos que levaram a queda do presidente Hosni Mubarak em 2011.
Enquanto isso, grupos que apoiam o exército do governo interino - The National Salvation Front e Tamarod - estariam organizando manifestações em resposta aos protestos da Irmandade Islâmica.
A violência de sexta-feira começou pouco depois do meio-dia, quando milhares de apoiadores de Morsi atenderam os pedidos da Irmandade Islâmica de saírem as ruas.
Testemunhas disseram que civis armados estavam entre os que se confrontaram com os manifestantes, enquanto outras pessoas vigiavam certas áreas bloqueando ruas para evitar o acesso de membros da Irmandade Islâmica.
Em outras áreas do Egito, pelo menos 21 pessoas foram mortas in Alexandria (2), Suez (6) , Damietta (8) e Fayoum (5), de acordo com fontes médicas.
Mohammed Morsi permanece em custódia, acusado de assassinato durante uma tentativa de fuga. O período de detenção do ex-presidente foi estendido por mais 30 dias, na quinta-feira passada, conforme dizem os veículos de informação do governo.

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