quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Caso Amarildo: Justiça aceita denúncia contra mais 15 PMs

Policiais foram denunciados pelo Ministério Público na terça-feira.
A Justiça abriu processo contra os 15 policiais militares denunciados pelo Ministério Público na terça-feira (22) por envolvimento no sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, no último dia 14 de julho, na Rocinha, zona sul do Rio. O TJ-RJ já havia aceitado a denúncia, em 4 de outubro, contra outros dez integrantes da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade, que estão detidos. Entre eles, o major Edson, ex-comandante da unidade. Dos 15 novos acusados, três já tiveram a prisão preventiva decretada.
Em coletiva na manhã de terça-feira, o Ministério Público anunciou o total de 25 denunciados por envolvimento na tortura e morte de Amarildo. Os crimes listados são tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha.
 De acordo com o MP, o ajudante de pedreiro foi torturado por cerca de 40 minutos. Além de receber choques elétricos, Amarildo teria sido afogado em um balde e sufocado com saco plástico na boca e na cabeça.
Agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado) do Ministério Público colheram depoimentos de policiais militares ao longo das últimas semanas. Ao menos cinco confirmaram que Amarildo foi torturado próximo à sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha. Disseram, inclusive, que os gritos podiam ser ouvidos claramente.
Segundo a promotora Carmem Elisa Bastos, do Gaeco, quatro PMs teriam sido efetivamente os torturadores de Amarildo: tenente Luiz Medeiros, o sargento Gonçalves e os soldados Maia e Vital. De acordo com os depoimentos, 11 policiais receberam ordem do tenente para permanecer dentro do contêiner e puderam ouvir as agressões. Outros 12 vigiavam o local. Os policiais ouvidos também disseram que o major Edson Santos, ex-comandante da UPP que hoje está preso no complexo de Bangu, ficou em seu escritório, no andar de cima do contêiner, em frente ao local da tortura. As testemunhas também disseram ter ouvido o pedido para trazer uma capa de moto para cobrir o corpo, o corpo sendo retirado do depósito pelo telhado em frente à mata.
Ainda segundo o MP-RJ, mais 15 policiais militares, entre eles três mulheres, foram denunciados pelo órgão, totalizando 25 acusados pelo crime.
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No início do mês, o Gaeco havia informado que escutas telefônicas autorizadas pela Justiça do Rio ajudaram a Divisão de Homicídios nas investigações que levaram à prisão preventiva de dez PMs, os primeiros denunciados. Os dez agentes tiveram os telefones celulares grampeados e monitorados.
Uma escuta revelou conversa de um PM com a namorada três dias após a reprodução simulada na Rocinha, que refez as versões dos PMs da noite em que Amarildo desapareceu. Segundo o delegado Rivaldo Barbosa, o acusado disse à mulher: "Eles já sabem o que aconteceu, só não têm como provar".
Para atrapalhar as investigações, um dos PMs tentou se passar por um traficante conhecido como Catatau. Segundo a polícia, o acusado telefonou para um celular apreendido que vinha sendo monitorado e assumiu a autoria da morte de Amarildo, como se fosse Catatau. Entretanto, segundo a delegada Elen Souto, ficou provado que a voz não era do traficante.
Em seguida, de acordo o Gaeco, a voz das gravações foi comparada com a de 34 policiais militares. Foi então que concluiram que seria um soldado identificado como Marlon Campos Reis.
As gravações das conversas dos acusados ainda mostraram, segundo a polícia, que eles combinavam versões sobre o crime na tentativa de não cair em contradição diante dos investigadores. Em uma das delas, o major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, liga para um dos PMs acusados, segundo Barbosa.
— O major Edson tenta combinar depoimentos com o soldado Vital. Quando o soldado Vital sai da DH, ele [Edson] liga para o soldado Vital e pergunta: 'Vital, você disse na DH que foi lá embaixo só para buscar o Amarildo?'

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