sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Bastiões chavistas ficam à margem dos protestos na Venezuela

Manifestação de apoio ao governo (AFP)
Fontes no governo confirmam ter registrado protestos em áreas chavistas, mas dizem que eles foram promovidos por uma minoria
Muitas áreas de Caracas exibem novas marcas pretas no chão. Em muitas avenidas da capital, é praticamente impossível não ver uma delas a cada cinco metros. São as cinzas deixadas pela queima de borracha e lixo que define o método mais usado nos protestos recentes contra o governo, que já duram mais de uma semana.
Boa parte do país está em convulsão. Em muitas áreas ao leste de Caracas, os colégios estão fechados, as ruas foram bloqueadas e há protestos diariamente.
Na última semana, de acordo com o Ministério Público, oito pessoas morreram, 137 ficaram feridas e ao menos 200 foram presas. Mas nas áreas mais pobres, tradicionais redutos do chavismo, ignora-se o que está ocorrendo.
“Ãh?”, respondeu com perplexidade um homem quando cheguei no bairro de Mamera, ao sudoeste da cidade, e lhe perguntei sobre os protestos. Sua resposta monossilábica deixou claro seu desinteresse e marcou o fim da entrevista.
“É que aqui as pessoas são pobres e têm que resolver seus próprios problemas diariamente”, me explicou outro homem.
Em bairros pobres de Caracas, como Mamera, Caricuao, Carapita e Antimano, quase não há marcas pretas no chão.
As ruas estão “decoradas” com cartazes do presidente Nicolás Maduro e de Hugo Chávez.
Muro pintado com o nome de Hugo Chavez (AFP)
Sinais de apoio a Maduro e Chavez são abundantes nos bairros pobres
Nesses lugares quase não têm há protestos, talvez porque existam outras prioridades (econômicas, sobretudo) ou porque há haja um grande respaldo ao governo atual.
"Aqui as lojas estão abertas, as crianças continuam indo à escola e as pessoas estão tranquilas”, disse Israel, um aposentado que mora em Caricuao. “Ontem, alguns estudantes bloquearam a avenida, mas a Guarda Nacional os dispersou rapidamente.”

Vida normal

Em Antimano, bairro conhecido por sua criminalidade, a vida parecia transcorrer normalmente. Dezenas de crianças saiam de suas escolas, o comércio funcionava e havia muita gente nas ruas. Na porta dos supermercados, pessoas faziam fila para comprar os escassos produtos básicos, como leite, frango e papel higiênico.
Bairro em Caracas (BBC)
Em áreas chavistas, os protestos são tratados com indiferença
Cenas parecidas se repetiam na ronda feita pela BBC Mundo nas zonas de Catia, 23 de Janeiro, La Quebradita e outras onde costuma haver maior apoio político ao governo. Em geral, havia poucos sinais de que terem sido cenário dos amplos protestos noturnos.
Isso não quer dizer que eles não tenham ocorrido, mas não pareciam ter sido tão intensos quando na Praça Altamira, ponto de encontro da oposição.
Fontes chavistas confirmaram à BBC Mundo que o governo registrou protestos em zonas consideradas seus bastiões eleitorais, como El Valle e Petare (a maior favela da América Latina). “Mas são obra de uma minoria”, disse uma das fontes, que pediram para serem mantidas anônimas.
No entanto, isso não pode ser verificado de forma independente e é algo que difere dos vários relatos em redes sociais sobre grandes e frequentes manifestações nestes locais.
Jazmín vive em La Vega, uma favela perigosa onde casas precárias tomaram o lugar do verde que havia nas montanhas de Caracas.
Rastro deixado por manifestantes
Nos bairros chavistas, há poucos rastros deixados por protestos
De sua posição privilegiada no alto da cidade, Jazmín pode ver como a estrada que marca a entrada de sua zona “foi bloqueada até tarde na quarta-feira” e “houve troca de tiros quando a Guarda Nacional chegou para dispersar os manifestantes”.
“Aqui normalmente há panelaços, mas os últimos protestos foram os mais fortes até agora”, diz.

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