quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Franco-atiradores disparam em manifestantes na Ucrânia; Obama critica repressão

Com dezenas de mortos, dia é o mais violento na crise de três meses. Autoridades dizem que oposição capturou 67 policiais

Temendo que uma declaração de trégua fosse uma armadilha, manifestantes lançaram bombas incendiárias e avançaram contra linhas policiais nesta quinta-feira na capital da Ucrânia, Kiev. Franco-atiradores do governo e policiais reagiram, causando uma onda de violência que deixou dezenas de mortos, em uma contagem que vai de um total de ao menos 21 a 70 manifestantes. Em resposta à violência, a União Europeia anunciou a imposição de sanções contra a Ucrânia.
AP
Corpos de manifestantes antigoverno mortos em confrontos com a polícia são vistos na Praça da Independência, em Kiev (20/2)
Testemunhas disseram à BBC que alguns morreram como resultado de um ferimento feito por uma única bala, típico de franco-atiradores. Autoridades disseram que um policial foi morto e que outros 67 foram capturados pelos manifestantes. Não ficou claro como eles foram capturados. Segundo um senador opositor, eles estão presos na prefeitura ocupada de Kiev.
Vídeos da televisão ucraniana mostraram cenas chocantes de manifestantes caindo ao ser atingidos, com companheiros correndo para prestar auxílio enquanto eles estavam deitados no pavimento. Tentando se proteger com escudos, grupos de manifestantes carregaram corpos em pedaços de plástico ou pedaços de madeira.
Acusação: Ativista diz que foi sequestrado, torturado e jogado em floresta
O presidente Viktor Yanukovych e os manifestantes da oposição que demandam sua renúncia estão presos em um impasse sobre a identidade dessa nação de 46 milhões de habitantes, cujas lealdades estão divididas entre Rússia e o Ocidente. Partes do país – principalmente na região ocidental – declararam revolta contra o governo de Yanukovych no final de novembro, depois que ele abriu mão de um acordo há muito tempo esperado com a União Europeia em troca de um pacote de resgate de US$ 15 bilhões da Rússia.
Nesta quinta, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que mandará um enviado à Ucrânia a pedido do presidente para tentar mediar as conversas com a oposição. "Putin decidiu enviar o ombudsman de direitos humanos (russo) Vladimir Lukin nesta missão", informou a agência RIA, citando o porta-voz Dmitry Peskov, cuja declaração foi feita após uma conversa telefônica entre Putin e Yanukovych.
Um câmera da AP viu franco-atiradores disparando contra os manifestantes em Kiev e gravações mostraram ao menos um deles usando um uniforme da tropa de choque ucraniana.
Oleh Musiy, o principal coordenador médico dos manifestantes, disse que ao menos 70 foram mortos nesta quinta-feira, dia que também deixou 500 feridos. Não há como confirmar a informação de forma independente. Previamente, um repórter da Associated Press contou 21 corpos na margem de um campo de protesto na capital. Além do policial morto, outros 28 foram feridos por disparos, disse o porta-voz do Ministério do Interior Serhiy Burlakov.
Medida: União Europeia impõe sanções à Ucrânia por repressão violenta
Dizendo que os EUA estão ultrajados com a violência, o presidente Barack Obama emitiu uma declaração conclamando Yanukovych a retirar suas forças do centro de Kiev imediatamente. Os EUA consideram a possibilidade de se unir às sanções que a União Europeia adotou contra os que forem considerados responsáveis pela violência.
AP
Ativistas seguram bandeira 'Pela Ucrânia' diante dos corpos de manifestantes mortos em confronto com a polícia, na Praça da Independência, em Kiev (20/02)
O Ministério do Interior alertou os moradores de Kiev a permanecer em ambientes fechados nesta quinta-feira por causa das "pessoas armadas e de humor agressivo". Também nesta quinta, Yanukovych alegou que a polícia não está armada e "todas as medidas para parar o banho de sangue e o confronto estão sendo tomadas". Mas o Ministério do Interior mais tarde contradisse isso, afirmando que os policiais usariam armas como parte de uma operação "antiterrorista".
Quarta: Ucrânia lança operação antiterrorista
A mais recente violência começou na terça-feira, quando manifestantes atacaram linhas policiais e incendiaram pontos do lado de fora do Parlamento, acusando Yanukovych de ignorar suas demandas para realizar reformas constitucionais que mais uma vez limitariam os poderes presidenciais.
Terça: Polícia invade acampamento de manifestantes em Kiev e deixa mortos
Previamente às mortes desta quinta, o Ministério da Saúde ucraniano confirmou 28 mortes e 287 internações nesta semana. Manifestantes que improvisaram uma instalação de cuidados médicos no centro da catedral disseram, porém, que os números de feridos são significantemente maiores – possivelmente até o triplo do anunciado pelo governo.

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