segunda-feira, 23 de setembro de 2013

BC nega mudança em política monetária mesmo após surpresa com Fed

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comemorou nesta segunda-feira a recente decisão do Banco Central dos EUA (Federal Reserve ou Fed) de adiar o início da redução de seus estímulos monetários, mas disse que tal decisão não afeta os rumos da política monetária brasileira nem seus planos de intervenção no mercado de câmbio.
"Essencialmente, isso não terá um efeito na política monetária no Brasil", disse Tombini em uma entrevista à imprensa internacional, na qual ressaltou, porém, que é necessário esperar a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) para se ter uma confirmação sobre os efeitos do anúncio do Fed nas deliberações das autoridades monetárias brasileiras.
Segundo Tombini, a decisão do Fed foi um alívio para os emergentes e para o Brasil, mas afeta apenas o ritmo - e não a essência - de um processo de transição que estaria em curso na economia global, no qual se estaria passando de uma fase de condições financeiras e monetárias mais folgadas para uma fase de "normalização" (ou aperto) dessas condições.
Ele também defendeu que o Brasil está "preparado" para novas turbulências na economia global.
"O Brasil tem trabalhado para mitigar os riscos (associados a essa transição)", afirmou Tombini. "Aumentamos a capacidade do país navegar por águas mais turbulentas."

Avanços

Entre os avanços que teriam contribuído para fortalecer a economia brasileira recentemente, segundo o presidente do Banco Central, estariam os "progressos no combate a inflação", impulsionados pela política de alta de juros iniciada em maio.
Outro avanço importante teria sido conseguido justamente com o programa de intervenções diárias do BC no mercado de câmbio, que estaria contribuindo para estabilizar o real, de acordo com Tombini.
Tal programa começou a ser implementado para conter a rápida desvalorização da moeda brasileira provocada por especulações sobre a decisão do Fed e prevê o uso de US$ 60 bilhões em intervenções até o final do ano.
"Na nossa perspectiva, o programa é adequado e está funcionando bem. Não temos nenhuma novidade nessa área", respondeu Tombini ao ser questionado sobre a possibilidade de mudanças.
"Na nossa perspectiva, o programa é adequado e está funcionando bem. Não temos nenhuma novidade nessa área."
Alexandre Tombini, presidente do BC, sobre o programa de intervenções no câmbio
As afirmações contrariam declarações que teriam sido feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para a agência de notícias Reuters.
Segundo a agência, Mantega disse na última quarta-feira que a decisão do Fed de manter seu programa de estímulos monetários poderia levar o Banco Central a cortar suas intervenções no mercado de câmbio.

Contexto

O programa de estímulos monetários do Fed envolve a compra de títulos do tesouro americano e do mercado imobiliário e foi adotado em 2008 para ajudar a economia dos EUA a superar os efeitos da crise financeira global.
Com o mesmo propósito, o Banco Central americano também tem mantido taxas de juros próximas a zero.
Nos últimos anos, ambas as políticas ajudaram a inundar de dólares os mercados de países emergentes, que oferecem rendimentos mais altos para capitais estrangeiros em troca de riscos mais elevados.
Como resultado, até o primeiro semestre deste ano moedas como o real brasileiro, a rúpia indiana e o peso mexicano sofreram grandes valorizações e houve um aumento do fluxo de investimentos estrangeiros para esses países em desenvolvimento.
Tal cenário, porém, começou a mudar radicalmente entre maio e junho, quando o Fed deu indicações de que poderia reduzir seu programa de estímulos monetários.
Parte dos capitais que haviam migrado para os emergentes começaram a "voltar para casa", derrubando o valor das moedas desses países.
Só o real teve uma queda de 20% em relação ao dólar nessa época e, em meio a pressões inflacionárias, o Banco Central começou a aumentar a Selic.
O mercado esperava que os cortes no programa do Fed começassem na semana passada, mas após uma reunião de dois dias, a autoridade monetária americana não só frustrou tais expectativas, mantendo o programa, como ainda deu a entender que poderia manter os juros próximos a zero ao menos até 2016.
Foi tal decisão que deu "alívio" aos países em desenvolvimento, reduzindo a pressão sobre suas moedas.
"Quanto mais graduais (os cortes nesse programa), melhor para os emergentes como o Brasil", disse Tombini.
"E essa preocupação (do Fed) com a volatilidade (dos mercados) é bem-vinda e importante não só para os emergentes, mas para toda a economia global."

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