terça-feira, 24 de setembro de 2013

Fracasso em reformar Conselho de Segurança até 2015 será "derrota coletiva", diz Dilma

A presidente Dilma Rousseff disse nesta terça-feira, em discurso durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, que o fracasso em reformar o Conselho de Segurança da ONU até 2015 representaria uma "derrota coletiva" e que só a inclusão de países em desenvolvimento no órgão pode solucionar o que chamou de "déficit de representatividade" do conselho.
Dilma também afirmou em seu discurso que não há saída militar para a crise na Síria e voltou a defender a criação de um Estado palestino soberano.
"É preocupante a limitada representatividade do Conselho de Segurança da ONU face os novos desafios do século 21", disse Dilma em seu discurso, lembrando o fracasso do Conselho de Segurança em resolver questões como a crise na Síria e o conflito entre Israel e os palestinos.
A presidente lembrou que em 2015 a ONU completará 70 anos e que, em 2005, estabeleceu-se a meta de reforma do Conselho de Segurança, atualmente com cinco membros permanentes e com poder de veto --Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China.
Dilma lembrou que muitas vezes os impasses entre os membros permanentes do Conselho impedem a tomada de ações necessárias no mundo atual. Historicamente, o Brasil busca ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
"Impõe-se evitar a derrota coletiva que seria chegar a 2015 sem um Conselho de Segurança capaz de exercer plenamente suas responsabilidades no mundo de hoje", disse.
"Urge dotar o Conselho de vozes ao mesmo tempo independentes e construtivas. Somente a ampliação do número de membros permanentes e não-permanentes, e a inclusão de países em desenvolvimento em ambas as categorias permitirá sanar o déficit de representatividade e legitimidade do Conselho."
A presidente abriu seu discurso manifestando o repúdio do governo brasileiro ao atentado em um shopping de Nairóbi, capital do Quênia, que matou mais de 60 pessoas.
Ela também comentou as denúncias de espionagem do governo dos Estados Unidos no Brasil e adotou um tom duro ao afirmar que a espionagem é uma "afronta" aos princípios que devem reger as relações entre países amigos.
CALAR A VOZ DAS ARMAS
Dilma aproveitou o discurso para reiterar a defesa brasileira de uma solução pacífica para o conflito na Síria e disse que qualquer intervenção militar "ao arrepio" do direito internacional apenas geraria mais sofrimento humano.
"Dois anos e meio de perdas de vidas e destruição causaram o maior desastre humanitário deste século... É preciso impedir a morte de inocentes, crianças, mulheres e idosos. É preciso calar a voz das armas -convencionais ou químicas, do governo ou dos rebeldes. Não há saída militar. A única solução é a negociação, o diálogo, o entendimento", disse.
A presidente lembrou aos representantes dos mais de 190 países que fazem parte da ONU as manifestações que tomaram as ruas do Brasil em junho e voltou a dizer que seu governo "ouviu a voz das ruas".
"As manifestações de junho, em meu país, são parte indissociável do nosso processo de construção da democracia e de mudança social. O meu governo não as reprimiu, pelo contrário, ouviu e compreendeu a voz das ruas", disse.
"Ouvimos e compreendemos porque nós viemos das ruas. Nós nos formamos no cotidiano das grandes lutas do Brasil. A rua é o nosso chão, a nossa base. Os manifestantes não pediram a volta ao passado. Pediram sim o avanço para um futuro de mais direitos, mais participação e mais conquistas sociais."
A presidente também tratou de economia e disse que seu governo tem "compromisso com a estabilidade, com o controle da inflação, com a melhoria do gasto público e a manutenção de um bom desempenho fiscal" e fez um apelo pelo crescimento econômico global.
"Passada a fase mais aguda da crise, a situação da economia mundial continua frágil, com níveis de desemprego inaceitáveis. Os dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) indicam a existência de mais de 200 milhões de desempregados em todo o mundo", afirmou.
"Os países emergentes sozinhos não podem garantir a retomada do crescimento global, mais do que nunca é preciso uma ação coordenada para reduzir o desemprego e restabelecer o dinamismo do comércio global. Estamos todos no mesmo barco."
Dilma reiterou a posição brasileira de defesa do Fundo Monetário Internacional (FMI) como caminho para dar mais eficácia ao órgão multilateral de crédito.
"Seguimos apoiando a reforma do Fundo Monetário. A governança do fundo deve refletir o peso dos países emergentes e em desenvolvimento na economia mundial. A demora nessa adaptação reduz sua legitimidade e sua eficácia", defendeu.

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