Brasília - Ampliar e fortalecer a rede de atendimento e assistência aos usuários de crack
no país é um dos principais desafios revelados pela pesquisa Perfil dos
Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, divulgada hoje (19) pelo
Ministério da Justiça. Ao avaliar os dados, o ministro José Eduardo
Cardozo enfatizou que 80% dos usuários de crack querem
tratamento contra o uso da substância e que mais de 90% desejam receber
apoio para conseguir emprego ou educação para reinserção social. Ele
defendeu que as punições sejam aplicadas aos traficantes e que os
usuários recebam apoio do Estado.
"Os
narcotraficantes, que integram organizações criminosas, devem ser
investigados e punidos com máximo rigor, porém usuários devem ser
considerados como dependentes químicos e, portanto, passíveis de
tratamento na área da saúde e no âmbito de políticas de reinserção
social", disse o ministro. "Temos que ampliar a rede com qualidade",
acrescentou.
Para Davi (nome fictício), que começou a usar a droga aos 14 anos, a
motivação pessoal é a melhor arma para se livrar das drogas. Na
tentativa de se afastar dos amigos que também faziam uso da substância,
ele se mudou com a mãe para Brasília. Segundo Davi, se não houver uma
forte decisão de abandonar o consumo o processo é muito mais difícil.
"Não adianta mudar de cidade, de bairro, se as coisas não mudarem
dentro da gente. Justificativas sempre encontramos [para usar droga],
mas, na verdade, começar o consumo foi uma decisão minha. Colegas me
ofereceram e eu podia ter dito não", reconheceu o rapaz.
Na avaliação do ministro Cardozo, a existência de 370 mil usuários de crack,
somente nas capitais e no Distrito Federal, entre os quais
aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes, indicam a gravidade do
problema, que deve ser enfrentado pela integração de esforços entre as
três esferas de governo. Ele acrescentou que o estudo confirma que o Programa Crack, é Possível Vencer, lançado em 2011 pelo governo federal, vem enfrentando a questão de forma acertada.
Cardozo reconheceu, no entanto, que ajustes no programa podem ser
necessários para o direcionamento das ações a partir dos dados
encontrados, como garantir um foco maior no Nordeste. A região concentra
cerca de 40% dos usuários de crack nas capitais.
O secretário Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), Vitore
Maximiano, defendeu o fortalecimento das ações de prevenção, sobretudo
nas escolas. De acordo com a pesquisa, os usuários de crack têm
baixa escolaridade, sendo que apenas dois em cada dez cursaram ou
concluíram o ensino médio. Em relação ao ensino superior, a proporção é
ainda menor: cerca de 0,3% cursou ou concluiu o ensino de terceiro grau.
Maximiano também ressaltou que, diante dos dados revelados pelo estudo,
a discussão sobre a internação compulsória no país se torna
desnecessária.
Segundo Maximiano, existem mais de 2 mil pessoas em comunidades
terapêuticas, financiadas com recursos federais. A meta é ampliar para
10 mil vagas até 2014. Ele informou que a Senad publicou, este mês, o
edital para a contratação de mais 3,2 mil vagas para o acolhimento
nessas comunidades.
"Na medida em que 80% [dos usuários de crack]
desejam se tratar, fica desnecessário o debate quanto à internação
compulsória. Os índices de recuperação neste caso são baixos. Vamos
cuidar de 80% das pessoas que querem se tratar e convencer os 20% que
ainda não manifestaram esse desejo de buscarem tratamento", disse
Maximiniano. Se a oferta existir na forma como planejamos, certamente
será possível alcançar o universo das pessoas que vivem o sofrimento do
uso da droga", acrescentou ele.
Além do Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, o
Ministério da Justiça também divulgou a Estimativa do Número de Usuários
de Crack e/ou Similares nas Capitais do País. Encomendadas pela Senad à
Fundação Oswaldo Cruz, as pesquisas representam o maior e mais completo
levantamento sobre o assunto no mundo.
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