sexta-feira, 14 de março de 2014

Com reforma ministerial, Dilma enfrenta PMDB da Câmara e tenta cercar Minas

A presidente anunciou o fim da reforma sem ceder a Secretaria dos Portos, alvo de cobiça de Eduardo Cunha. As mudanças, no entanto, agradaram ala peemedebista mineira fiel ao PT

Ao anunciar a conclusão da reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff sinalizou que não cederá às pressões da bancada peemedebista na Câmara, liderada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No entanto, Dilma teve que ceder para o PMDB de Minas Gerais e recuou da intenção de nomear para a pasta do Turismo o ex-prefeito de Ouro Preto o peemedebista Ângelo Oswaldo.
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Nenhuma das indicações tem a digital de Eduardo Cunha, nem nas mudanças nas pastas já comandadas pelo PMDB, como Agricultura e Turismo. Embora alguns dos novos ministros sejam filiados ao partido, politicamente o PMDB acabou perdendo a pasta do Turismo.
O que pesou na escolha dos nomes foi garantir apoio político em Minas, estado onde Dilma enfrentará um embate político acirrado com seu adversário, o candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves.
Agência Brasil
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A indicação do Ângelo Oswaldo havia sido articulada pelo petista Fernando Pimentel, candidato ao governo de Minas, em conjunto com o atual ministro da Agricultura, Antônio Andrade, que também deixará a pasta para concorrer às eleições. O descontentamento na bancada mineira foi grande e, ao avaliar que perderia mais do que ganharia em seu próprio estado, Dilma optou por uma solução técnica: nomear Vinícius Lages, atual gerente de assessoria internacional do Sebrae, para o cargo.
Ponto nevrálgico
O ponto de enfrentamento a Eduardo Cunha, no entanto, não chegou a ser anunciado como parte das mudanças. Dilma deu por encerrada a reforma sem mexer na Secretaria de Portos, principal ponto causador da crise com o PMDB. A fúria de Eduardo Cunha e de parte do PMDB contra a presidente é atribuída à resistência de Dilma em ceder a pasta ao partido.
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O controle da pasta continuará sob o comando de Antonio Henrique Pinheiro Silveira, técnico do Ministério da Fazenda, indicado para o cargo pelo ex-secretário-executivo da pasta, Nelson Barbosa.
Dilma também não mexeu no Ministério da Integração Nacional, pasta que chegou a ser oferecida pela presidente ao senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE), que a rejeitou. Eunício é candidato ao governo do Ceará e ficou irritado com a oferta que, em sua opinião, tinha o claro objetivo de limpar caminho para a candidatura a ser indicada pelo atual governador, Cid Gomes e seu irmão Ciro, ambos do PROS.
A presidente também não concordou com a sugestão do PMDB de colocar no cargo o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Palanque
Para a Agricultura, Dilma convidou o atual secretário de política Agrícola da pasta, Neri Geller, ligado ao senador Blairo Maggi (PR-MT) e indicado para o cargo por Antonio Andrade. Geller é técnico e se filiou ao PMDB no final do ano passado.
Com as indicações, Dilma procurou isolar parte do PMDB de Minas Gerais que tem flertado com a candidatura presidencial do senador tucano. Entre os líderes desse grupo estão o senador Clésio Andrade, o deputado estadual Saraiva Felipe e o deputado federal Leonardo Quintão, que chegou a ser indicado pelo PMDB para a pasta da Agricultura, mas teve seu nome rejeitado pela presidente. Em contrapartida, Dilma se preocupou em fortalecer o grupo liderado em Minas por Antonio Andrade, ala que tem feito, ao longo dos anos, a interface com o PT.
Outro indicado para compor a equipe de Dilma é Clélio Campolina, reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ligado ao PMDB, Campolina também tem relações estreitas com o atual ministro interino do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges. Os dois são organizadores do livro Economia e Território, que reúne artigos de autores nacionais e internacionais sobre problemas territoriais do desenvolvimento. As duas indicações são produto da articulação política de Pimentel com vistas a viabilizar seu próprio palanque e a campanha de Dilma em Minas Gerais.
A presidente também confirmou os nomes do líder do PRB no Senado, Eduardo Lopes para substituir o ministro Marcello Crivella, na Secretaria de Pesca e Aquicultura. Para o Ministério das Cidades, pasta que também foi alvo de pedidos do PMDB, Dilma anunciou Gilberto Magalhães Occhi, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal desde 1980 e atual vice-presidente de governo da Caixa. Para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Dilma anunciou a volta de Miguel Rossetto, que comandou a pasta no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Todos os novos ministros tomarão posse na segunda-feira (17).

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