A participação de civis, especialmente do empresariado, no
golpe militar de 1964 foi tema de seminário, hoje (15), na capital paulista,
organizado pelo grupo de trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao
Movimento Sindical em parceria com a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Na
ocasião, quatro pesquisadores apresentaram trabalhos que mostram a forma como
as empresas se beneficiaram e apoiaram a ditadura militar no país.
“Estamos buscando entender o elemento civil no golpe e na
própria ditadura, sobretudo a participação de empresários. Esse documento vai
compor o relatório final da comissão, porque é um tema fundamental para
entender esse período”, declarou Rosa Cardoso, advogada criminalista e membro
da CNV. As apresentações ocorreram no auditório da Assembleia Legislativa de
São Paulo.
Um dos trabalhos foi apresentado pela jornalista Denise
Assis, que analisou o acervo em vídeo do Instituto de Pesquisa e Estudos
Sociais (Ipês). Criado por empresários cariocas e paulistas, o grupo tinha como
objetivo criar as bases de uma oposição para impedir o avanço dos ideais
socialistas no país. “Foram produzidos 14 filmes que serviram de instrumento de
convencimento da sociedade para que aceitasse e ansiasse pelo golpe”, explicou
a pesquisadora.
Em seu trabalho de mestrado em história, Jorge José de Melo
analisou o financiamento do empresariado paulista à Operação Bandeirantes
(Oban), estrutura governamental que antecedeu o Destacamento de Operações de
Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Ele estuda,
sobretudo, a trajetória de Henning Albert Boilesen, presidente, à época, da
empresa Ultragaz. “A estrutura da Oban foi montada por empresários, por
iniciativa deles, e encampada pelo Exército. Houve uma participação civil maior
[dos empresários] do que a gente imagina na ditadura brasileira”, avaliou.
O professor Pedro Campos, do Departamento de História da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresentou sua tese sobre
a participação das empreiteiras no financiamento do golpe militar. “Trata-se de
uma ditadura militar, mas é necessário qualificar esse elemento civil. Não foi
toda a sociedade brasileira que aderiu à ditadura e ao golpe”, declarou.
Durante o debate, avaliou-se que é preciso responsabilizar institucionalmente
essas organizações, pois grupos que se fortaleceram naquele momento continuam
existindo e detém grande poder econômico.
O procurador da República, Marlon Alberto Weichert, mestre
em direito constitucional, também contribuiu para o debate com a análise do
financiamento dos atos de violação aos direitos humanos por empresários durante
a ditadura militar.
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