terça-feira, 18 de março de 2014

Soldado ucraniano 'foi morto em ataque a base na Crimeia'

Soldado na Crimeia (AFP)
Morte foi a primeira registrada desde que forças pró-Rússia assumiram o controle na Crimeia
O exército da Ucrânia afirmou nesta terça-feira que um oficial ucraniano foi morto em um ataque a uma de suas bases na Crimeia. Foi a primeira morte de um militar registrada na península desde que forças pró-Rússia tomaram o controle sobre o território em fevereiro.
No entanto, há divergências quanto à morte. De acordo com o correspondente da BBC em Simferopol Mark Loen, ao menos um órgão de imprensa russo diz que o soldado morto era membro das forças de autodefesa pró-russas.
Ainda segundo a agência de notícias da Crimeia Kryminform, um membro da força de defesa pró-Rússia foi morto. Nenhum dos dois relatos pode ser confirmado de forma independente e não se sabe se os dois casos estão relacionados.
Em Kiev, o primeiro-ministro interino Arseniy Yatseniuk disse que o conflito na Crimeia passou do estágio político para o militar, e o governo autorizou militares a usarem suas armas para se defenderem.

Homens armados

Uma testemunha relatou o ataque à BBC e disse que homens armados chegaram em dois veículos sem qualquer identificação e invadiram atirando a base na cidade de Simferopol.
O governo ucraniano disse que o oficial morto estava em serviço em um parque dentro da base e que outro acabou ferido. Um terceiro militar teve ferimentos na cabeça e na perna depois de ser espancado com barras de ferro.
O ministro da Defesa ucraniano, Vladislav Seleznyov, disse à agência de notícias Reuters que o ataque foi realizado por "forças não-identificadas, muito equipadas e com seus rostos cobertos".
Os militares ucranianos tiveram seus documentos de identidade, armas e dinheiro confiscados, disse Seleznyov.
Segundo Loen, da BBC, uma trégua está em curso no momento na base e somente tiros de alerta têm sido disparados, mas a tensão é grande e teme-se que novos conflitos ocorram.

Anexação

O ataque ocorreu pouco depois do presidente russo, Vladimir Putin, e líderes políticos da Crimeia assinarem um decreto que estabelece a anexação da Crimeia pela Rússia.
Líderes ocidentais reprovaram o tratado, e uma reunião de emergência entre os países do G7 - Canadá, França, Itália, Alemanha, Japão, Reino Unido e Estados Unidos - e da União Européia foi convocada para a próxima semana na cidade de Haia, na Holanda.
Putin disse, durante um pronunciamento no Kremlin, que a Crimeia "sempre fez parte da Rússia" e que o referendo no qual os eleitores da região votaram pela anexação da área à Rússia foi a correção de uma "injustiça histórica".
Os comentários do mandatário russo se deram pouco após Putin ter assinado, juntamente com líderes da Crimeia, um tratado que estabeleceria a incorporação da península à Rússia.
A Crimeia foi tomada por forças pró-Rússia no final de fevereiro após o afastamento do então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, que era um forte aliado de Moscou.
Na segunda-feira, a república autônoma ucraniana se declarou independente do país, após cerca de 97% dos eleitores que votaram em um referendo realizado no final de semana terem optado pela separação e pela anexação da região pela Ucrânia.
O governo da Ucrânia disse que jamais aceitará o resultado do referendo.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em um pronunciamento na Polônia, afirmou que o envolvimento russo na Crimeia foi "uma incursão militar gritante" e que a anexação do território "não passou de uma apropriação de terra".

Retaliação

A Alemanha e a França condenaram o tratado entre a Rússia e a Crimeia assim que ele fosse divulgado. Por sua vez, a Grã-Bretanha anunciou que estava suspendendo atos de cooperação bilateral militar com a Rússia.
A União Europeia e os Estados Unidos já haviam se pronunciado contra o referendo na Crimeia, considerando-o ilegal. Autoridades americanas e do bloco europeu declararam ainda o congelamento de bens e o veto a concessão de vistos de políticos russos e da Crimeia.
O pronunciamento de Putin foi realizado perante as duas casas do Parlamento russo, a Duma, a Câmara baixa, com 450 membros, e o Conselho da Federação, a Câmara baixa, com 166 membros, e também contou com a presença dos novos líderes da Crimeia.
Em seu discurso, Putin afirmou: "Nos corações e mentes do povo, a Crimeia foi e permanece sendo uma parte inseparável da Rússia".
De acordo com o líder russo, os resultados do referendo foram "mais do que convincentes".
"O povo da Crimeia, de forma clara e convincente, expressou sua vontade. Eles querem fazer parte da Rússia", afirmou. E ainda acrescentou que não estavam mais preparados para arcar com a "injustiça histórica" de fazer parte da Ucrânia.
A Crimeia fez parte da Rússia até 1954, quando o líder soviético Nikita Khrushchev, decidiu devolvê-la à Ucrânia.
Cerca de 58% dos habitantes da península são de etnia russa. Os demais moradores da região são, em sua maioria, ucranianos e há ainda uma minoria tártara.
A crise ucraniana começou em novembro passado após Yanukovych desistir de um acordo que previa maior integração com a União Europeia, optando por manter laços mais fortes com a Rússia.
Ele fugiu da Ucrânia em 22 de fevereiro depois que intensos protestos tomaram as ruas da capital Kiev, levando a dezenas de mortes nos conflitos entre a polícia e manifestantes.

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